Efeito da Tirzepatida no remodelamento cardíaco em pacientes com ICFEP

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A obesidade é um fator de risco conhecido para insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP), sendo associada a um fenótipo distinto. A ICFEP relacionada à obesidade apresenta predomínio de remodelação mais concêntrica, além de aumento no volume cardíaco total devido à expansão do volume plasmático. O tecido adiposo epicárdico (TAE) também está aumentado nesses pacientes sendo relacionado a eventos adversos. O TAE aumenta a liberação de adipocitocinas pró-inflamatórias secretadas localmente, além de aumentar o potencial arritmogênico. O TAE e o tecido adiposo pericárdico também podem atuar comprimindo o coração e prejudicando o enchimento, ao mesmo tempo em que reduzem a secreção de peptídeos natriuréticos devido à diminuição da distensão da câmara.

No estudo SUMMIT a tirzepatida levou a uma diminuição de 38% no desfecho combinado de morte e agravamento de eventos de insuficiência cardíaca na ICFEP relacionada à obesidade, além de uma perda de peso significativa. Um subestudo de ressonância magnética cardíaca (RMC) foi projetado para examinar os efeitos da tirzepatida na estrutura e função cardíaca, com a hipótese subjacente de que reduziria a massa do VE e o TAE, o que, por sua vez, poderia estar relacionado a alguns dos efeitos benéficos sobre os eventos cardiovasculares.

Um total de 175 pacientes com ICFEP relacionada à obesidade, randomizados para tirzepatida ou placebo foram submetidos a RMC no início do estudo SUMMIT. Um total de 106 pacientes tiveram qualidade de imagem adequada para análise da estrutura e função do VE e do átrio esquerdo, além da quantificação do tecido adiposo paracardíaco (epicárdico mais pericárdico) no início e em 52 semanas. O desfecho primário pré-especificado deste subestudo foram as alterações entre os grupos na massa do VE.

O grupo em uso de tirzepatida teve redução significativa na massa do VE em 11 g e no tecido adiposo paracardíaco em 45 mL (P < 0,001). A mudança na massa do VE no grupo tratado correlacionou-se com mudanças no peso corporal (P < 0,02) e tendeu a se correlacionar com mudanças na circunferência da cintura e pressão arterial (P 1⁄4 0,06 para ambos). A alteração da massa do VE também se correlacionou com alterações no volume diastólico final do VE e nos volumes diastólico final e sistólico final do átrio esquerdo (P < 0,03 para todos).

Uma metanálise de 15 estudos envolvendo um total de 898 pacientes com ou sem diabetes tratados com aGLP demonstrou uma redução na massa do VE de uma média de 4 g, muito menor do que a redução de 11 g observada no presente estudo. No estudo STEP-HFPEF em uma população de pacientes semelhante ao SUMMIT, a semaglutida não demonstrou redução da massa do VE, mas isso pode ser em parte pela avaliação por ecocardiografia, que é menos sensível a alterações nessa medida. Também é possível que os efeitos da tirzepatida e da semaglutida na massa do VE possam ser diferentes. O agonismo do GIP, além da maior ativação de AMPc na via GLP1 com a tirzepatida podem ter papel em uma maior redução da massa do VE. Aguardamos futuros estudos nessa população para esclarecer não só mecanismos, mas principalmente se existe uma vantagem clínica na redução de desfechos entre os diferentes agentes.