É hora de indicar o monitoramento contínuo de glicose para pacientes críticos?

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A hiperglicemia em pacientes hospitalizados está associada a um maior número de complicações, maior tempo de internação e maiores taxas de mortalidade.  Sem um monitoramento rigoroso, a hiperglicemia poderia facilmente passar despercebida em pacientes sem diabetes, com consequências devastadoras. Com relação aos pacientes cirúrgicos, a hiperglicemia está intimamente associada a resultados desfavoráveis, incluindo aumento do tempo de internação, retardo na cicatrização de feridas, infecções, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e morte. Da mesma forma, a hipoglicemia e a alta variabilidade da glicêmica também afetam negativamente os resultados cirúrgicos.

Em pacientes hospitalizados, a realização de glicemias capilares continua sendo o padrão-ouro para monitoramento glicêmico. Antes da pandemia da COVID-19, havia poucos estudos sobre o uso do monitoramento contínuo da glicose em tempo real (rtCGM) em pacientes hospitalizados, mas a pandemia aumentou a necessidade de minimizar o contato com o paciente e nos obrigou a explorar o rtCGM. Em março de 2020, o FDA dos EUA emitiu uma autorização sem precedentes para o uso de rtCGM em ambiente hospitalar. Consequentemente, vários centros publicaram a sua experiência com rtCGM em pacientes hospitalizados em unidades de terapia intensiva (UTI) e fora da UTI.

Recente estudo publicado na Diabetes Care avaliou a eficácia e a viabilidade do rtCGM em pacientes gravemente enfermos submetidos a grandes cirurgias abdominais. Os autores compararam os valores de glicose pareados do rtCGM com os valores de glicose do sangue arterial. Notou-se uma diferença relativa média absoluta tranquilizadora de 9,4%, enquanto 98,9% dos valores caíram nas zonas A e B da grade de erro de vigilância, sugerindo a obtenção de níveis de precisão nesses casos críticos. A acurácia da monitorização da glicemia à beira do leito foi superior, entretanto, com uma diferença relativa média absoluta de 5,8% e 98,8% dos valores nas zonas A e B da grade de erros de vigilância.

Esse é um estudo de grande relevância que acrescenta evidências valiosas à crescente literatura para o uso de rtCGM no hospital. Atualmente, existem dados limitados sobre esta população de pacientes, porque estes indivíduos são comumente excluídos dos estudos devido às muitas fontes potenciais de imprecisões, incluindo influências mecânicas, fisiológicas e químicas, resultando em flutuações significativas na glicose. No entanto, são os pacientes com controle glicêmico desafiador para quem a administração de terapia insulínica segura e eficaz tem o maior potencial de benefícios.

O uso hospitalar de rtCGM é uma prática altamente esperada, com demanda universal, mas tem sido historicamente limitada por preocupações de imprecisão devido a interferências de medicamentos, distúrbios fisiológicos e condições com valores de glicose altamente flutuantes em pacientes gravemente enfermos. Tais preocupações são todas bem abordadas pela metodologia e análise utilizadas nesse estudo.

Referências:

Voglová Hagerf. Accuracy and feasibility of real-time continuous glucose monitoring in critically ill patients after abdominal surgery and solid organ transplantation. Diabetes Care 2024;47:956–963

Bhargavi Patham, Abhishek Kansara, Archana R. Sadhu; Real-time Continuous Glucose Monitoring in the Intensive Care Unit: The Fifth Vital Sign. Diabetes Care 20 May 2024; 47 (6): 924–926