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Dosagem de troponina pode ser útil em paciente renal crônico?

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Dosagem de troponina pode ser útil em paciente renal crônico?

A prevalência global de doença renal crônica (DRC) é alta e afeta aproximadamente 10% da população adulta mundial. Pacientes com DRC apresentam maior mortalidade cardiovascular quando comparados à população geral, particularmente, por causas cardiovasculares e, especialmente, naqueles em estágios avançados da DRC (estágio 4 e 5). Sabe-se que níveis elevados de troponina cardíaca (cTnT) estão presentes em pacientes com doença renal crônica sem necrose miocárdica aguda, o que prejudica a avaliação daqueles com DRC e apresentação atípica de lesão miocárdica. A avaliação da cTnT em pacientes com A DRC torna-se ainda mais desafiadora porque a os limites de referência superiores de cTnT foram originalmente derivados de uma população geral saudável. A elevação da cTnT em pacientes com DRC não é espúria, e está relacionada a um pior prognóstico. Falamos sobre esses pontos no vídeo abaixo:

Estudos anteriores estabeleceram associação entre cTnT basal e mortalidade em populações com DRC. No entanto, medições longitudinais de cTnT podem fornecer informações adicionais sobre a trajetória do biomarcador, que pode refletir melhor a fisiologia da doença cardiovascular subclínica em comparação com uma única medição. Recentemente foi publicado um estudo no JACC que teve o objetivo de avaliar as medições de cTnT e o risco de mortalidade em uma população idosa e com DRC estágio G4 ou G5 não dialítico. O estudo é uma subanálise da coorte denominada EQUAL (European QUALity) em que são avaliados prospectivamente pacientes com DRC e TFG < 20mL/min/1.73m2. Foram avaliados 176 indivíduos com DRC (média de TFGe 17,6mL/min/1.73m2). Foram cerca de 6 dosagens de cTnT por paciente com tempo médio de 2.4 anos. A mediana do nível sérico da cTnT foi de 36ng/L e a média de idade de 75 anos. Os pacientes forma subdivididos em 3 grupos (tercis):1- cTnT: 10-28 ng/L2- cTnT: 29-47 ng/L3- cTnT: 48-379 ng/L. Sessenta pacientes iniciaram diálise durante o acompanhamento.

A sobrevida global em 5 anos foi de 57% e foi inversamente correlacionada com tercil de cTnT de linha de base (P <0,0001). Pacientes no tercil mais alto de cTnT tiveram chance 9,1x maior de (IC 95%: 4,1- 20,0) de morte em comparação com aqueles no tercil mais baixo de cTnT. Cada desvio padrão de aumento na cTnT basal foi associado a um aumento de 3,2 vezes no risco de mortalidade (HR: 3,2; IC 95%: 2.4-4.3).

Desta forma, os níveis séricos de troponina estiveram associados a maior risco cardiovascular em pacientes idoso com doença renal crônica estágio G4 e G5 não dialítico. A medida da cTnT pode ser um instrumento para identificar pacientes de mais alto risco cardiovascular dentre os pacientes com DRC com TFG < 30mL/min/1.73m2, especialmente quando avaliado de forma longitudinal. No entanto, este foi um estudo observacional que serve para avaliar hipóteses e associações e deve ser apreciado à luz dos custos do exame e de medidas de intervenção baseados nos mesmos para poder ser incorporada de forma sistemática na prática clínica.