Doença da arranhadura do gato (DAG): um diagnóstico diferencial a ser lembrado nas linfadenomegalias regionais ou disseminadas

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A DAG é causada pela Bartonella henselae e, menos frequentemente, pela Bartonella quintana. As bartonelas são bacilos gram negativos que infectam animais, sendo o homem hospedeiro acidental na maioria dos casos, pela inoculação direta (pela arranhadura ou lambedura de gatos). A B. henselae apresenta distribuição ubíqua mais prevalente em locais de clima quente e úmido.

A doença é mais descrita em crianças, mas há frequentes achados em adultos. As manifestações clínicas típicas consistem no surgimento de pápula ou pústula três a 10 dias após o contato com o animal infectado, no sítio de inoculação (geralmente por arranhadura, mordedura ou lambedura), com duração de até três semanas. Essa lesão pode ser precedida por eritema e vesículas. Em 40 a 65% dos pacientes não é possível identificar o sítio de inoculação.  A linfadenopatia regional no sítio de inoculação (principalmente na cabeça, região cervical e membros superiores) é a manifestação clínica mais importante e surge dentro de uma e sete semanas após a inoculação, sendo o sinal que faz o paciente procurar atenção médica na maioria dos casos. A sintomatologia geral como febre baixa, hiporexia e prostação pode ser observada e, entre exames inespecíficos, podem ser evidenciados aumento da velocidade de hemossedimentação, leucocitose com neutrofilia e, às vezes, eosinofilia. O acometimento conjuntival associado à linfonodomegalia pré-auricular, quadro conhecido como síndrome de Parinaud, já foi detectado em nosso meio.

O envolvimento linfonodal pode ser único ou múltiplo e raramente há supuração local. O aumento de linfonodos pode persistir por até quatro meses, mas, via de regra, resolve-se espontaneamente.  A linfonodomegalia pode ser expressiva, sugerindo, às vezes, doença linfoproliferativa. Não há associação entre o volume dos linfonodos e o estado geral.

O diagnóstico é feito com base nos dados clínicos e epidemiológicos, além de exames microbiológicos como gram e cultura de secreção, obtida por punção de linfonodo guiada por ultrassonografia, ou coleta de secreção exteriorizada em linfonodos supurados. Infelizmente, a Bartonella apresenta baixo aproveitamento em cultivo nos métodos de rotina. São necessários meios enriquecidos como ágar chocolate ou ágar sangue, de preferência usando-se sangue de coelho e com longo tempo de incubação.

Os exames sorológicos visam a detectar no soro do paciente anticorpos antiBartonella, diferenciando ainda as espécies B. henselae e B. quintana. Por imunofluorescência indireta, anticorpos das classes IgM e IgG são investigados. A sensibilidade para o IgG varia de 14 a 100% e pode haver reação cruzada com outras bartonelas, gerando resultados falso-positivos. Para a IgM, a sensibilidade é inferior a 50%. A detecção utilizando ELISA apresenta sensibilidade e especificidade semelhantes às da imunofluorescência indireta.

Os diagnósticos diferencias são múltiplos, desde doenças linfoproliferativas, esporotricose, leishmaniose tegumentar e tuberculose cutânea ( escrofuloderma).

Vários antimicrobianos já foram utilizados para o tratamento da DAG, mas ainda há dúvidas quanto à indicação de antibióticos, às drogas de primeira escolha e à duração do tratamento. Antibióticos betalactâmicos como penicilinas e cefalosporinas não apresentam ação contra a Bartonella henselae.12 O tratamento de escolha são medicamentos macrolídeos como azitromicina e eritromicina, podendo ainda ser utilizadas doxicilina, rifampicina, sulfametoxazol+trimeprim e quinolonas.13 Casos com tendência à cronificação demandam tratamento de supressão por tempo elevado.12,14 A opção por SMT/TMP neste caso decorreu da boa tolerância ao medicamento no longo prazo e pela boa disponibilidade para fornecimento pelo sistema de saúde pública.