Disfunção tireoidiana na gravidez: nova diretriz da American Thyroid Association a caminho

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A gestação é um período associado a diversas alterações no metabolismo. Um ponto de particular atenção são as adaptações no funcionamento da tireoide, necessárias para um aporte adequado de hormônios tireoidianos, particularmente no primeiro trimestre, período em que a glândula fetal ainda não está funcionante. Potenciais alterações na função tireoidiana estão presentes em até 10% das gestantes. Tais condições não devem ser impeditivos para a gravidez, porém aumentam o risco de complicações materno-fetais devendo ser prontamente reconhecidas e tratadas adequadamente.

Neste início de novembro, em Chicago, foi realizado o congresso da American Thyroid Association (ATA). Uma das apresentações mais comentadas foi a das novidades do guideline das disfunções tireoidianas na gestação, previsto para publicação nos primeiros meses de 2025. O documento atualiza a diretriz anterior de 2017, com a colaboração de outras sociedades médicas relacionadas, abrangendo 14 revisões sistemáticas da literatura. Vamos aos principais destaques:

Pré-concepção

- Pacientes com função tireoidiana normal mas com anticorpos positivos não devem receber tratamento com levotiroxina. Estudos clínicos prospectivos e randomizados não demonstraram benefícios nessa abordagem. Entretanto, a positividade do anti-TPO pode levar ao hipotireoidismo subclínico ou manifesto dentro de 1 ou 2 anos, ficando a recomendação para a avaliaçao da função tireoidiana a cada 3-6 meses até a gravidez.

- Pacientes com hipotireoidismo subclínico que estejam planejando gravidez devem ser tratadas com levotiroxina, objetivando um TSH < 2,5 um/L.

Gestantes

- Três condições classificadas anteriormente como fatores de risco para disfunção tireoidiana, incluindo idade superior a 30 anos, pelo menos duas gestações anteriores e obesidade grau 3 (IMC ≥ 40 kg/m2), foram excluídos dessa condição, não indicando, por si só, a necessidade de testes laboratoriais. Uma metanálise publicada recentemente corrobora essa recomendação.

Outros fatores como história prévia de hipo ou hipertireoidismo subclínico ou clínico, tireoidite pós-parto, positividade conhecida de anticorpos tireoidianos, sintomas de disfunção tireoidiana ou bócio indicam a avaliação da função tireoidiana assim que confirmada a gravidez.

- O hipotireoidismo subclínico, se diagnosticado no primeiro trimestre, deve ser tratado, independentemente da presença de auto-anticorpos. Entretanto casos diagnosticados no segundo e terceiro trimestres só terão indicação de tratamento se TSH ≥ 10mU/L (!?). As recomendações agora não são mais baseadas no anti-TPO, mas sim de acordo com o momento do diagnóstico de hipotireoidismo subclínico. Os apresentadores, entretanto, ressaltam a possibilidade de flexibilizar a indicação de tratamento para valores limítrofes de TSH.

- Retestar hipotireoidismo subclínico - vários estudos demonstram que uma grande proporção de casos de hipotireoidismo subclínico revertem espontaneamente para eutireoidismo no terceiro trimestre - apesar de nenhum tratamento ter sido fornecido. Assim, a nova diretriz recomenda a possibilidade de não iniciar tratamento, mesmo no primeiro trimestre, e reavaliar os exames em 3 semanas.

- Hipertireoidismo - Propiltiouracil continua sendo a droga preferida no hipertireoidismo, devido a um menor risco de alterações neonatais (3% versus 5% com metimazol). Para pacientes em uso prévio de metimazol em doses ≤ 10mg/dia, principalmente com títulos baixos de TRAb, deve ser considerada a suspensão do tratamento assim que confimada a gravidez.

E aí, o que achou das “novas recomendações”? Muitas já faziam parte da nossa rotina, concorda? De toda forma, vamos aguardar a publicação do documento completo para novos debates. Siga acompanhando!