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Diretriz sobre Doença Renal do Diabetes: abordagem por etapas

Escrito por
Ícaro Sampaio
Publicado em
19/3/2025

Diabetes Mellitus (DM) é a causa mais comum de doença renal crônica (DRC) em todo o mundo e esses pacientes têm um risco muito alto de doença cardiovascular (DCV) e morte. Dados de ensaios clínicos confirmam que a taxa de progressão para DRC terminal, DCV e mortalidade em pessoas com DRC devido ao DM2 pode ser efetivamente mitigada por intervenções estabelecidas mais recentes.
As Diretrizes Association of British Clinical Diabetologists and UK Kidney Association (ABCD-UKKA) publicadas em 2025 incorporam todas as evidências de ensaios recentes e propõem uma abordagem em etapas para a implementação das recomendações, a fim de promover uma intervenção holística e individualizada para múltiplos fatores de risco.
Etapa 1
A primeira etapa inclui mudanças no estilo de vida, gerenciamento individualizado da glicemia e da pressão arterial. Eles têm sido parte do padrão de tratamento em todos os ensaios clínicos que demonstram o benefício de várias intervenções terapêuticas na redução dos resultados renais e de DCV em pessoas com diabetes tipo 2. Os cinco principais elementos da MEV são ingestão reduzida de sal <2 g de sódio (ou <5 g de cloreto de sódio diariamente), álcool <14 unidades por semana, cessação do tabagismo, exercícios regulares pelo menos 30 minutos por dia durante 5 dias por semana e manter um índice de massa corporal entre 20 e 25 kg/m2.
Etapa 2
Embora referidas como Etapa 2, as intervenções neste nível podem ser iniciadas simultaneamente com as intervenções da etapa anterior. O objetivo principal aqui é reduzir os riscos de base da progressão da DRC e da DCV. O gerenciamento das etapas 1 e 2 deve ser iniciado na atenção primária. Além do efeito de redução da PA, inibidores da ECA ou BRAs reduzem ainda mais o risco de progressão da DRC. Embora o bloqueio do SRAA retarde a progressão da DRC, nos ensaios, cerca de 40% dos pacientes ainda atingiram os endpoints renais primários. Os ensaios recentes com inibidores de SGLT2 mostraram uma redução adicional no risco de progressão da doença renal em cerca de 30%. Esses estudos também demonstraram redução no risco de DCV e mortalidade. As diretrizes ABCD-UKKA também recomendam que a maioria das pessoas com diabetes tipo 2 e DRC recebam uma dose ideal de uma estatina para prevenção primária.
Etapa 3
Nos ensaios com iSGLT2 associados ao tratamento padrão, que incluía pressão arterial e controle glicêmico e ideal, cerca de 10% dos pacientes atingiram os endopoints renais primários. Isso sugere que, apesar do tratamento ideal da etapa 2, ainda há risco residual de progressão da doença renal e DCV em um número significativo de pacientes, para os quais são sugeridas as seguintes intervenções:
-Com base na forte evidência de proteção cardiorrenal oferecida pela adição de finerenona nos estudos FIDELIO-CKD e FIGARO-CKD, em pessoas com DRC que têm albuminúria persistente (RAC >30 mg/mmol) apesar do uso de doses máximas toleradas de iSRAA e iSGLT2, deve-se considerar a adição de finerenona para reduzir o risco de resultados renais e cardiovasculares adversos.
-Semaglutida: recentemente, o estudo FLOW, demonstrou redução de desfechos renais e benefícios de mortalidade por DCV com o uso de semaglutida. Neste estudo, cerca de 15,6% da coorte estavam em inibidores de SGLT-2 na linha de base e nenhuma heterogeneidade importante de efeito ou resultados do tratamento foi observada nesta combinação.
Referência:
Dasgupta I,Zac-Varghese S,Chaudhry K, McCafferty K,Winocour P, Chowdhury TA, Bellary S,Goldet G, Wahba M, De P,Frankel AH, Montero RM, Lioudaki E, Banerjee D, Mallik R,Sharif A, Kanumilli N, Milne N, Patel DC, Dhatariya K,Bain SC, Karalliedde J. Current management of chronic kidney disease in type-2 diabetes-A tiered approach: Anoverview ofthe joint Association of British Clinical Diabetologists andUK Kidney Association (ABCD-UKKA) guidelines. Diabet Med. 2025 Feb;42(2):e15450.