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Devo suspender dapagliflozina no paciente com IC e deterioração da função renal?
Escrito por
Humberto Graner
Publicado em
12/12/2023
Estudos recentes como o DAPA-CKD e o EMPA-KIDNEY demonstraram benefícios dos inibidores da SGLT2 em pacientes com doença renal crônica mais avançada, incluindo aqueles com taxas de filtração glomerular estimada (TFGe) tão baixas quanto 25 mL/min/1,73 m². Os inibidores da SGLT2 mostraram não apenas melhorar o controle glicêmico, mas também oferecer proteção renal e cardiovascular, retardando a progressão da doença renal e reduzindo o risco de eventos cardiovasculares importantes.
Mas, nos pacientes com insuficiência cardíaca, para os quais os inibidores da SGLT2 se tornaram um dos pilares do tratamento, o que fazer quando a função renal se deteriora com o tempo? Esta é uma preocupação comum, não só do ponto de vista de segurança como eficácia.
Para responder esta pergunta um grupo de pesquisadores avaliaram como a continuação do uso de dapagliflozina em pacientes com IC impactava nos resultados, mesmo quando a taxa de filtração glomerular caía para abaixo dos limiares recomendados para início do tratamento.
A pesquisa analisou dados de 11.007 pacientes de dois estudos importantes, DAPA-HF e DELIVER, concentrando-se naqueles cuja TFGe caiu para menos de 25 mL/min/1,73 m². Os pesquisadores utilizaram modelos de risco proporcionais de Cox para avaliar a associação entre a deterioração da TFGe, eficácia e segurança do tratamento com dapagliflozina.
E quais foram os Resultados?
Entre os pacientes avaliados, 3,2% (347 pacientes) apresentaram uma deterioração da TFGe para menos de 25 mL/min/1,73 m². Esses pacientes tiveram um risco maior do desfecho composto primário (HR 1,87; IC95% 1,48 - 2,35; p<0,001). No entanto, o risco do desfecho primário foi menor com dapagliflozina em comparação com placebo, tanto para pacientes que experimentaram (HR 0,53; IC95% 0,33 - 0,83) quanto para aqueles que não experimentaram (HR 0,78; IC95% 0,72 - 0,86) deterioração da TFGe. Além disso, não houve aumento significativo nos riscos de segurança, incluindo a descontinuação do medicamento, entre os grupos de tratamento.
Quais as Conclusões e Implicações Clínicas?
- Pacientes com DRC são pacientes de ALTO RISCO! Isso não é novidade, e estes dados são consistentes. Afinal, aqueles que apresentam deterioração da função renal também foram aqueles que apresentaram maior incidência do desfecho primário.
- Benefício da Continuação do Tratamento. Pacientes com IC e deterioração da função renal podem se beneficiar da continuação do tratamento com dapagliflozina, sem excesso de riscos de segurança.
- Atenção para Insuficiência Renal Aguda! Este estudo explora a manutenção da dapagliflozina na deterioração CRÔNICA da função renal, entendida como progressão da doença. É diferente do paciente que se apresenta com IRA, na qual, geralmente é aconselhável suspender a dapagliflozina para não aumentar o risco de efeitos adversos, incluindo desidratação, hipotensão e desequilíbrios eletrolíticos.
Referência
S Chatur, M Vaduganathan, BL Claggett, et al. Dapagliflozin in Patients With Heart Failure and Deterioration in Renal Function. J Am Coll Cardiol 2023 Nov 07;82(19)1854-1863,