Destaques do ADA 2024

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Durante os dias 21 a 24 de junho de 2024 tivemos a realização da 84ª Scientific Sessions da American Diabetes Association em Orlando. Este é o maior evento mundial sobre o tema com cerca de 20.000 congressistas e mais de 200 sessões ao longo dos 4 dias de evento. Nossa equipe esteve acompanhando todas as novidades e viemos hoje trazer nossos principais pontos de destaque.

 

Prevenindo o DM2: Determinaçãofetal do risco de obesidade

O diabetes tipo 2 em jovens vemcrescendo em incidência e está associado a maior incidência de complicações emuma faixa etária cada vez mais baixa. Na abertura do congresso, foramapresentados dados apontando que o diabetes gestacional  leva a alterações de áreas cerebraisrelacionadas ao controle do apetite, tanto homeostático quanto hedônico. Em umacoorte acompanhada por mais de 15 anos, quanto mais cedo ocorreu a exposição fetalà hiperglicemia, maior a incidência de obesidade na infância e adolescência.

 

É possível reverter o diabetes tipo 1?

O Donislecel (LantidraR) é um transplante celular alogênico de ilhotas pancreáticas purificadas feito por via vascular, direto na circulação portal. A medicação já tem aprovação pelo FDA americano, baseado em estudos iniciais com 30 pacientes. A indicação é para pacientes adultos com DM1 que não consigam controle glicêmico adequado por episódios de hipoglicemia grave, apesar de terapia intensiva (inclusive com bomba de insulina). Lembrar que trata-se de um transplante e que é necessário terapia imunossupressora. Nos estudos clínicos, foi associado um análogo de GLP1 nos primeiros 6 meses de tratamento. Dos 30 pacientes, 25 atingiram algum período livre de insulina, sendo 4 (13,3%) por menos de 1 ano, 12 (36,7%) por 1 a 5 anos e 9 (33,3%) por mais de 5 anos.

 

Estudo Surmount OSA – A tirzepatida no tratamento da apneia do sono.

A tirzepatida é um agonista duploGLP1-GIP já aprovada para tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade. A apneia do sono afeta cerca de 40% dos indivíduos com obesidade e 70% das pessoas com apneia do sono tem excesso de peso. A apneia está relacionada a complicações cardiovasculares como hipertensão de difícil controle e maior risco de eventos, além de dificultar a resposta ao tratamento da perda de peso. No estudo Surmount – OSA, a tirzepatida levou a redução de 58,7% dos eventos de apneia/hipopneia, com 50% dos pacientes atingindo índices suficientes para interromper o uso do CPAP. Em 1 ano de tratamento, a tirzepatida levou a redução de 19,6kg em média.

 

Estudo SELECT – novos dados sobre o benefício cardiovascular da Semaglutida

O estudo SELECT avaliou pacientes com obesidade e alto risco cardiovascular, mas sem DM2. Novos dados foram apresentados. O resultado primário demonstrou redução de 20% no risco do 3PMACE (morte cardiovascular, AVC e IAM não fatais). O benefício cardiovascular do desfecho primário foi independente do IMC inicial, da redução de peso ou da glicemia.

Entre os participantes, 66% tinham prediabetes. A semaglutida reduziu a progressão para diabetes em 73%. Cerca de30% desse benefício foi atrelado a perda de peso.

4286 pacientes tinham IC no início do estudo. O benefício CV foi independente do diagnóstico prévio de IC. Os benefícios foram observados independente da fração de ejeção.

Os dados fazem parte de desfechos secundários pré especificados, o que limita o nível de evidência. Entretanto demonstram evidentes efeitos pleiotropicos da medicação e reforçam a segurança de sua utilização em pacientes de alto risco CV e com IC.

 

Uso de monitor de glicose em mulheres com diabetes gestacional.

Os hormônios placentários aumentam a resistência insulínica principalmente a partir do 2º trimestre. É recomendado a medição da glicemia pelo menos 6x ao dia em pacientes com diabetes durante a gestação. O estudo CONCEPTT, publicado em 2017, já demonstrou melhor controle glicêmico e redução de desfechos maternos e neonatais com o uso de CGM. Novo estudos apresentados estendem tais benefícios para pacientes com DM2 e diabetes gestacional. As principais reduções foram vistas no ganho de peso materno, risco de bebê GIG e internamento em UTI neonatal.

 

Tratamento do DM1: além da insulina

 

iSGLT2 – Estudos seguem apontando maior frequência de cetoacidose. Durante monitorização também se observa aumento dos níveis de cetonemia, mesmo não atingindo limiar de cetoacidose. Possíveis condutas para reduzir risco: início em pacientes bem controlados, uso de doses menores, redução de dose de insulina < 20% e monitorização de cetonas. Os benefícios renais e cardiovasculares foram verificados em DM2, os resultados não podem ser extrapolados para o DM1. Foram apresentados também dados iniciais do estudo ATTEMPT – usando 5mg de dapagliflozina em pacientes com DM1 e hiperfiltração (TFG > 100ml/min). Houve aumento dos níveis de cetona, sem aumento de cetoacidose. Houve redução da TFG em 8ml/min, reversível após suspensão da medicação.Não foram avaliados benefícios renais ou cardiovasculares.

 

GLP1 – Novos dados com a tirzepatida e asemaglutida demonstram significativa redução de peso corporal em pacientes comDM1. Como há redução da dose de insulina, também aumenta o risco de cetoacidose, principalmente nos “Sick Days”. A longa meia vida dos agentes mais efetivos dificulta esse manejo.

 

Antagonistas dos mineralocorticoides - iniciando estudos com a finerenona em pacientes com nefropatia diabética por DM1. Como não há alteração nas doses de insulina, não são esperadas maiores complicações.

 

             Novosdados do estudo FLOW: benefício da semaglutida na nefropatia diabética.

No estudo FLOW usando a semaglutida 1mg empacientes com nefropatia diabética e alto risco cardiovascular, foram observados redução de desfechos cardiovasculares e renais (inclusive com redução na queda da TFG), inclusive com redução significativa na mortalidade por todas as causas. No estudo original apenas 15% dos pacientes estavam em uso de iSGLT2. Novos dados analisaram separadamente esse subgrupo e demonstraram que os benefícios foram mantidos nos pacientes em uso de iSGLT2, sendo o maior benefício no grupo em uso da associação.

 

             Perspectivas e novidades

Manutenção de massa magra:

- Dados com o uso do Bimagrumab (Bloqueador da ativina) associado a semaglutida.

- Dados com anticorpo bloqueador de ativina e miostatina.

- Agonista da apelina: Azelaprag

Todos demonstrando maior manutenção de massa magra em contexto de restrição calórica e perda de peso corporal.

 

Pemvidutida: agonista GLP1/Glucagon. Estudo MOMENTUM: 15,6% de redução de peso em 48 semanas. Desse total, apenas 21% foram de massa magra. Também houve benefícios importantes no perfil lipídico (-50% nos triglicerídeos e -20% no LDLc).

 

Terapia genica com GLP1

Dose única de ilhotas modificadas para secreção de GLP1, injetadas diretamente no pâncreas por via endoscópica após 26 semanas de tratamento com semaglutida levou a manutenção do peso perdido durante o período de tratamento.