Curso básico de tomografia cardíaca – Tomografia cardíaca e a bomba atômica.

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A tomografia é uma metodologia baseada na emissão de raios-X para a formação das imagens e, portanto, expõem o paciente a radiação ionizante, potencial gatilho para o desenvolvimento de neoplasias. Embora seja assunto de grande controvérsia na literatura, não se sabe ao certo qual o comportamento (dose) exata de exposição para causar doenças.

Os principais estudos sobre os efeitos da radiação são derivados do seguimento de indivíduos sabidamente expostos aos efeitos nucleares da bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki na Segunda Guerra Mundial, que demonstraram que uma exposição acima de 100mSv* está relacionado ao risco significativo de câncer induzido. Assim considera-se que a exposição menor que 3mSv apresente baixo risco para o desenvolvimento de efeitos deletérios1. De qualquer forma, parece óbvio que quanto menor a exposição menor a chance. Assim os estudos em tomografia devem ser guiados pelo conceito ALARA (as low as reasonably achievable), ou seja, a mínima dose necessário para um exame adequado.

A tomografia cardíaca foi, desde sua introdução na prática clínica, alvo de críticas em relação à dose de radiação dos exames, ainda mais considerando a potencial do método para o rastreamento ou seguimento de doença coronária. Isso estimulou desenvolvimento tecnológico de metodologias de aquisição que mantivessem a qualidade das imagens com redução progressiva da exposição do paciente à radiação.

Assim a modulação da corrente do tubo de raio X ao longo do ciclo cardíaco, aquisições prospectivas (limitadas apenas a irradiar a fase diastólica do ciclo cardíaco) ou técnicas de reconstrução iterativa permitiram reduções significativas na dose de radiação em mais de 80% em relação aos primeiros tomógrafos, cuja dose média de radiação girava em torno de 20mSv. Atualmente um tomógrafo com modulação de dose convencional realiza exames com cerca de 9mSv, em média. Com aquisição prospectiva essa média cai para 3mSv. Técnicas mais modernas como a aquisição Flash de tomógrafos dualsource ou volumétrica em tomógrafos de 320 canais, permitem a aquisição de exames com dose total de radiação abaixo de 1mSv.

Apenas como comparação com outras metodologias, os exames de cintilografia miocárdica para avaliação de isquemia apresentam exposição média de 12mSv (Sestamibi) e 10mSv (Tetrosfosmim); estudos cintilográficos de estresse/redistribuição de 10mSv (Rubídio) a 29mSv (Tálio); cineangiocoronariografia invasiva diagnóstica (7mSv) e terapêutica (15mSv) 2,3.

Vale salientar que o controle da frequência cardíaca é fundamental para a redução da dose de radiação, uma vez que permite ao tomógrafo modular a dose de radiação com maior eficiência.

No próximo post então falaremos sobre a importância do controle da frequência cardíaca para os exames de tomografia cardíaca.

1 – Einstein AJ, Berman DS, Min JK, Hendel RC, Gerber TC, Carr JJ, et al. Patient-centered imaging: shared decision making for cardiac imaging procedures with exposure to ionizing radiation. J Am Coll Cardiol.2014;63(15):1480-9.

2 - Efstathopoulos EP, Pantos I, Thalassinou S, Argentos S, Kelekis NL, Zografos T, et al. Patient radiation doses in cardiac computed tomography: comparison of published results with prospective and retrospective acquisition. Radiat Prot Dosimetry. 2012;148(1):83-91.

3 - Mark DB, Berman DS, Budoff MJ, Carr JJ, Gerber TC, Hecht HS, et al; American College of Cardiology Foundation Task Force on Expert Consensus Documents.ACCF/ACR/AHA/NASCI/SAIP/SCAI/ SCCT 2010 Expert Consensus Document on Coronary Computed Tomographic Angiography: a Report of the American College of Cardiology Foundation Task Force on Expert Consensus Documents. Circulation.2010;121(22):2509-43.

* mSv é a unidade de dose efetiva de radiação habitualmente utilizada na literatura médica