Cirurgia bariátrica é superior à dieta de muito baixa caloria na melhora do perfil lipídico?

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A cirurgia bariátrica é mais eficaz que o tratamento clínico da obesidade, tanto no que se refere à redução do peso corporal, quanto ao controle dos fatores de risco cardiovascular, como diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia. Está também associada a uma menor incidência de eventos cardiovasculares e menor mortalidade por todas as causas. Mas, não está claro se os efeitos benéficos são explicados especificamente pelo procedimento cirúrgico, pela restrição calórica ou pela perda de peso, uma vez que a maioria dos estudos demonstrou grandes diferenças na perda de peso entre os grupos.

Neste mês de julho de 2024, foi publicado no periódico JAMA Surgery o estudo COCKTAIL, ensaio controlado não randomizado que buscou comparar as alterações de curto prazo (6 semanas) no metabolismo da glicose, pressão arterial, lipídios, biomarcadores metabólicos e composição corporal em pacientes submetidos a Bypass Gástrico em Y de Roux (BGYR) versus uma dieta de muito baixa caloria (VLCD) com perda de peso correspondente.

Uma avaliação abrangente dos fatores de risco cardiovascular foi realizada antes, durante e no final da perda de peso correspondente induzida por VLCD (<800 kcal/dia)  de 6 semanas isoladamente ou VLCD de 6 semanas após BGYR, com ambas as intervenções precedidas por dieta de baixa caloria de 3 semanas (<1200 kcal/dia). Para fortalecer a adesão à dieta, um nutricionista consultou os pacientes semanalmente por telefone durante o estudo. Durante o VLCD de 6 semanas, um diário alimentar foi utilizado para monitorar a adesão dietética.

Entre os 78 pacientes incluídos nas análises, a idade média foi de 47,5 anos e 65% eram mulheres. Exceto por um índice de massa corporal médio ligeiramente superior de 44,5 no grupo RYGB versus 41,9 no grupo VLCD, as características demográficas e clínicas basais foram semelhantes entre os grupos.

Houve melhora importante do perfil lipídico após a cirurgia bariátrica em comparação com a dieta de muito baixa caloria, apesar de uma perda de massa gorda semelhante. As diferenças entre os grupos em 6 semanas favoreceram o grupo de cirurgia nos seguintes parâmetros: LDL (–17,7 mg/dL); não HDL (–17,4 mg/dL) e apolipoproteína B (–9,94 mg/dL) e para lipoproteína(a), a razão da média geométrica favoreceu o grupo de cirurgia (0,55 U/L; IC 95%, 0,42-0,75), segundo os pesquisadores.

A redução adicional do colesterol LDL de aproximadamente 18 mg/dL no grupo BGYR é de uma magnitude que pode reduzir o risco relativo de doença cardiovascular em 8% ao longo de 5 anos. Além disso, a redução do colesterol LDL após BGYR é semelhante ao efeito da ezetimiba (10 mg/dia), o que pode melhorar os resultados cardiovasculares em pessoas com DCV preexistente. A diminuição absoluta do colesterol LDL no grupo BGYR foi de 36,7 mg/dL, e cerca de metade desse efeito foi específico da cirurgia (17,7 mg/dL).

Esse foi o maior e mais longo estudo realizado com uma perda de peso correspondente entre BGYR e dieta durante o mesmo período de tempo e com ingestão calórica semelhante entre os grupos. Apesar da não randomização, que consiste numa limitação importante, os resultados são de grande relevância e despertam o interesse para uma comparação com os efeitos dos análogos de GLP-1 no mesmo cenário, assim como da gastrectomia vertical.

Referência:

Karlsson C, Johnson LK, Greasley PJ, Retterstøl K, Hedberg J, Hall M, Hawker N, Robertsen I, Havsol J, Hertel JK, Sandbu R, Skovlund E, Olsen T, Christensen H, Jansson-Löfmark R, Andersson S, Åsberg A, Hjelmesæth J. Gastric Bypass vs Diet and Cardiovascular Risk Factors: A Nonrandomized Controlled Trial. JAMA Surg. 2024 Jul 3:e242162. doi: 10.1001/jamasurg.2024.2162. Epub ahead of print. PMID: 38959017; PMCID: PMC11223056.