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Cardiomiopatia Dilatada e Genética: o que você precisa saber?
Escrito por
Fernanda Andrade
Publicado em
15/1/2024
A cardiomiopatia dilatada genética (CMD) é uma condição em que ocorre a dilatação do ventrículo esquerdo (VE) e uma redução na fração de ejeção (FE), sem causas secundárias, como isquemia miocárdica, hipertensão arterial, valvopatias primárias ou cardiopatias congênitas. Quando a origem da cardiomiopatia dilatada não é clara, a investigação de causas genéticas se torna relevante, pois cerca de 40% dos pacientes com CMD possuem variantes genéticas patogênicas ou provavelmente patogênicas.
Identificar uma variante patogênica relacionada à CMD é crucial para reforçar o diagnóstico, refinar a avaliação prognóstica e considerar intervenções precoces. A CMD pode ser familiar ou esporádica, com testes genéticos indicados para ambas. As diretrizes recomendam a avaliação do histórico familiar em pelo menos três gerações, preferencialmente por meio de um heredograma (relembre como fazer na figura 1), para determinar a necessidade de testes genéticos.
O teste genético é sugerido em casos de CMD para distinguir entre diferentes tipos de cardiomiopatia e identificar diagnósticos diferenciais que exigem tratamentos específicos. A escolha do teste genético deve considerar a análise de múltiplos genes simultaneamente por meio de painéis de sequenciamento de próxima geração (NGS), preferencialmente incluindo os genes frequentemente associados à CMD. Embora testes mais amplos, como o sequenciamento de exoma e genoma, analisem todos os genes conhecidos, eles são mais dispendiosos e demorados. O rendimento do teste genético (quer dizer: o quanto ele é “positivo” em quem tem o fenótipo da doença) na CMD varia de 15% a 40%, influenciado por fatores como histórico familiar positivo, comorbidades e características do eletrocardiograma (ECG).
Um escore proposto, o Escore de Madrid (figura 2) avalia a probabilidade de positividade do teste genético, considerando fatores como miopatia esquelética, histórico familiar de CMD e características do ECG, podendo resultar em uma taxa de positividade do teste genético de até 79%.
Figura 2: Escore de Madrid – Preditores de positividade do teste genético na CMD.
(autorizado o uso pelo autor)
Sobre o impacto do teste genético e suas implicações
Pacientes com cardiomiopatia dilatada e variantes patogênicas ou possivelmente patogênicas enfrentam desfechos clínicos mais desfavoráveis em comparação com aqueles que não apresentam essas variantes genéticas. Especialmente em casos com fração de ejeção (FE) ≤ 35%, o risco é mais elevado, embora haja variações dependendo dos genes afetados. Alguns genes que devem ser memorizados: PLN, LMNA e FLNC estão associados a um maior risco de arritmias, mesmo em pacientes com FE > 35%. Por outro lado, variantes em TTN demonstram um prognóstico mais favorável, associadas a menores taxas de arritmias malignas e maior incidência de remodelamento reverso.
Em condições como laminopatias, a taxa de mortalidade em quatro anos chega a 12% e a necessidade de transplante cardíaco pode surgir por volta dos 45 anos.
As variantes em FLNC aumentam a predisposição a arritmias ventriculares malignas e morte súbita, com taxas de 15-20% em cinco anos e 6% de mortalidade.
Já as variantes em PLN estão relacionadas a formas mais severas de cardiomiopatia, caracterizadas por arritmias malignas, progressão rápida para insuficiência cardíaca avançada e a necessidade de transplante cardíaco.
Referência
Furquim SR, Linnenkamp B, Olivetti NQS, Giugni FR, Lipari LFVP, Andrade FA, Krieger JE. Challenges and Applications of Genetic Testing in Dilated Cardiomyopathy: Genotype, Phenotype and Clinical Implications. Arq Bras Cardiol. 2023 Nov;120(10):e20230174.