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Capacidade física versus IMC, qual parece ser melhor preditor de sobrevida em Mulheres com Doenças Cardiovasculares?
Escrito por
Silvio Povoa
Publicado em
16/12/2022
00Sabe-se que tanto a obesidade (IMC > 30 kg/m2) quanto baixos níveis de atividade física são fatores de risco para doenças cardiovasculares. De forma interessante, ao mesmo tempo que há crescimento da prevalência de sobrepeso e obesidade, ocorre aumento da prática de atividades físicas nos Estados Unidos1,2. Por outro lado, ao passo que alguns estudos mostram aumento de mortalidade em homens e mulheres portadores de sobrepeso, alguns outros estudos mostraram relação inversa entre mortalidade e sobrepeso/obesidade3-5. Criou-se então , a partir disso, o “paradoxo da obesidade”6-8. Portanto, fica a pergunta: capacidade física versus IMC, qual parece ser melhor preditor de sobrevida em mulheres com doenças cardiovasculares ?
Recente estudo publicado no European Journal of Preventive Cardiology trouxe alguns dados interessantes sobre capacidade física versus IMC em mulheres9. A população foi estudada foi do coorte prospectivo WISE , no qual mulheres foram selecionadas de 1997-2001. As mulheres foram dividas em 6 grupos , que combinavam capacidade física (fit x não fit ) com peso normal, sobrepeso ou obesidade
- IMC normal , fit
- IMC normal, não fit
- Sobrepeso , fit
- Sobrepeso, não fit
- Obesidade, fit
- Obesidade, não fit
IMC normal foi classificado como < 25 kg/m2; Sobrepeso 25–29 kg/m2; Obesidade > 29 kg/m2. Foi considerada “fit” a capacidade funcional, mensurada pelo Duke Activity Status Index (DASI) > 7 METS ,e não-fit como < 7 METS.
Mulheres com boa capacidade funcional (“fit) e portadoras de sobrepeso e obesidade tiveram, respectivamente, menos 38 e 40% de chances de morrer por qualquer causa do que mulheres com IMC normal . Mulheres com IMC normal e não fit tiveram 65% de aumento do risco de eventos cardiovasculares. O estudo HUNT notou que indivíduos mais ativos fisicamente tinham reduzidas chances de mortalidade cardiovascular por todas as causas10. Diferentemente do estudo WISE, IMC mais alto apenas se associou com aumento de sobreviva em pacientes que não praticavam atividades físicas. Essa diferença pode ser explicada pela forma pela qual se mensurou atividades físicas nos estudos ou por diferenças populacionais. De forma interessante, o estudo WISE trouxe consigo a característica de olhar para mulheres, frequentemente sub representadas em estudos.
Médicos frequentemente orientam a perda de peso em mulheres. Essa medida pode ser contraproducente ou até deletéria, de acordo com a literatura acima.
Opinião do autor
Peso ainda é socialmente algo estigmatizado. Vale lembrar que o estudo em questão possui algumas falhas / pontos a serem observados com atenção. A capacidade funcional foi avaliada por um questionário (DASI) e não por teste ergoespirométrico ou ergométrico, e por vezes a avaliação de sobrepeso e obesidade traz consigo questões socioeconômicas que possivelmente não foram abordadas
A cobrança social por um corpo magro traz por diversas oportunidades uma dificuldade de acesso a esse tema, uma vez que a questão estética pode ser misturada equivocadamente com o componente de saúde.
A atividade física além de ser fator de prevenção de risco cardiovascular é aliada na perda de peso e na manutenção do peso atingido.
Dessa forma, o que podemos trazer do estudo em questão, sobre capacidade física versus IMC em mulheres? Que o convite para a prática de atividades físicas talvez seja a prioridade na hora de abordar essas questões, inclusive, por ser aliada na questão do tratamento da obesidade e do sobrepeso.
(Veja também mais sobre atividade física e mortalidade: https://d3gjbiomfzjjxw.cloudfront.net/exercicio-fisico-e-aptidao-cardiovascular/)
REFERÊNCIAS
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