Calcifediol: uma nova forma de repor vitamina D?

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A definição de deficiência de vitamina D se baseia na dosagem sérica da 25-hidroxivitamina D (25OHD). No entanto, nos casos de deficiência confirmada, realizamos classicamente a reposição com o colecalciferol. Este, por sua vez, precisará passar por um processo de metabolização hepática, que resultará na hidroxilação do carbono 25, gerando, assim a 25OHD. Mas será que é possível realizar diretamente a suplementação com a própria 25OHD? A resposta é sim, já que é exatamente isso que fazemos quando utilizamos o calcifediol.

O calcifediol é, portanto, a 25OHD, o que nos faz prontamente deduzir uma óbvia vantagem farmacológica deste metabólito em relação ao colecalciferol: pular a etapa de metabolização hepática. E por que isso seria uma vantagem? Muitos indivíduos possuem polimorfismos do gene CYP2R1, que expressa a 25-hidroxilase no fígado, o que parece justificar as diferentes respostas individuais à suplementação de colecalciferol.

Mas outra vantagem do calcifediol também tem sido descrita: uma mais eficiente absorção intestinal. Enquanto o calcifediol é absorvido através da circulação venosa portal, o colecalciferol tem um processo de absorção mais complexo, envolvendo a via linfática.

Juntando, assim, a melhor absorção intestinal com a exclusão da etapa de metabolização hepática, não é de se espantar que os níveis de 25OHD aumentem mais rapidamente com o calcifediol do que com o colecalciferol.

Isso tudo significa que devemos, então, substituir o colecalciferol, tão amplamente utilizado, pelo calcifediol? Na verdade, ainda não. Afinal, a maioria dos estudos envolvendo suplementação em casos de deficiência de vitamina D utilizaram o colecalciferal, de forma que, até o momento, temos muito mais evidência de segurança e eficácia com o colecalciferol do que com o calcifediol.

Além disso, todos os estudos randomizados que validaram a eficácia das drogas anti-osteoporose disponíveis atualmente utilizaram colecalciferol como suplemento, de forma que não é possível dizer que os resultados obtidos seriam os mesmos caso o calcifediol fosse utilizado.

E, se mesmo com ampla experiência, os dados referentes aos efeitos positivos do colecalciferol, tanto esqueléticos quanto extra-esqueléticos, ainda são conflitantes, o que dizer então da escassez de dados, inclusive de segurança, com o uso de calcifediol?

Ainda não há, portanto, justificativa para o calcifediol ser utilizado como primeira escolha. Porém, há algumas situações clínicas em que a escolha do calcifediol é justificada:

  1. Disabsorção intestinal: tanto pacientes com doenças intestinais primárias (como doença celíaca) como indivíduos submetidos à cirurgia bariátrica apresentam, muitas vezes, dificuldade na reposição de vitamina D, sendo necessárias doses mais altas do que as habituais para se atingir níveis satisfatórios de 25OHD; o que acaba elevando o custo do tratamento. Considerando a melhor absorção do calcifediol, pode ser possível elevar os níveis de 25OHD de forma mais rápida, com doses menores e, assim, submetendo o paciente a um menor custo.
  1. Doença hepática grave: nesta situação, há um comprometimento maior da fase de metabolização hepática da vitamina D. O calcifediol, portanto, anularia este problema.

Desta forma, é possível perceber que o calcifediol pode ser considerado em algumas condições específicas. No Brasil, a molécula foi aprovada pela ANVISA como suplemento alimentar, na dose de 10 mcg por comprimido, já sendo comercializado no mercado. Embora esta dose de 10 mcg tenha sido também estudada, muitos estudos que avaliaram a eficácia do calcifediol em elevar os níveis de 25OHD, utilizaram a dose de 20 mcg ao dia.

De qualquer modo, de forma alguma podemos ainda falar ainda em substituição de um metabólito pelo outro. Afinal, ainda falta dados de segurança a longo prazo com o calcifediol, enquanto temos décadas de experiencia com a suplementação do colecalciferol.