Atletas de elite apresentam mais ou menos Dermatoses do que aqueles que realizam atividades recreativas?

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Atletas estão submetidos a múltiplos fatores com aumento da transpiração, exposição a calor ou frio, contato corporal próximo, estresse mecânico intenso, traumas recorrentes e sua interface com o meio ambiente. Tudo isso pode ter um impacto no desenvolvimento ou exacerbação de anormalidades dermatológicas neste grupo.

Boa parte dos estudos disponíveis no campo da dermatologia desportiva detêm-se à avaliação de surtos de dermatoses isoladas ou de uma modalidade esportiva específica. Contudo um estudo analisou a prevalência de dermatoses infecciosas e não-infecciosas em diferentes tipos de esportes, considerando “atletas de elite” aqueles com mais de 8h de prática de atividades físicas semanais e atletas recreativos, aqueles com menos de 8h de atividades. Foram avaliados numa coorte 492 participantes entre 14-35 anos (265 homens e 227 mulheres) e categorizados em 4 grupos: esportes com bola, atletismo, esportes aquáticos e esportes de inverno.

E o resultado foi curioso! A probabilidade de atletas recreativos desenvolverem uma dermatose foi 2,21 vezes maior que os atletas de elite! Embora algumas dermatoses fossem raras, outras foram diagnosticadas com muita frequência.  As dermatoses mais prevalentes (com ocorrência >10%) foram neurodermite, prurido, bolhas, tinea pedis, unha encravada (oncocriptose), herpes simples, verrugas vulgares e acne.  

Até mesmo dermatoses como neurodermite, prurido, acne e dermatoses inflamatórias e infecciosas (como tinea pedis) e bolhas foram estatisticamente menos frequentes no grupo dos atletas de elite. Prurido apresentou maior incidência em esportes ao ar livre, mas sem diferença estatística em comparação com esportes indoor. Detectaram que remadores e canoístas apresentaram menor incidência de bolhas do atletas das demais especialidades. A incidência de tinea pedis foi maior em nadadores do que nos demais esportes (7x maior), traduzindo a correlação óbvia entre nadadores e doenças infecciosas, pelo contato prolongado com piscinas e dedos e pés mal secos. Verruga vulgar foi semelhantes em ambos os grupos

 Várias teorias podem tentar explicar os mecanismos fisioógicos subjacentes para o resultado benéfico sobre a pele para o atleta de elite. Estudos relataram aumento consistente de citocinas antiinflamatórias, como a IL-10, após exercícios de resistência. Soma-se a isto o elevado nível sanguíneo de cortisol, que tem porpriedades antiinflamatórias, além do estímulo positivo sobre o sistema imunológico e melhor circulação periférica. 

Questiona-se  se essa diferença na frequência de unhas encravada e bolhas ocorreu pelo uso de roupas específicas e calçados bem ajustados selecionados com maior cuidado pelo grupo de elite. É preciso lembrar também que atletas de elite ou  profissionais mais comumente estão sob observação médica constante, com acesso a medidas preventivas e  cuidados com a saúde, que incluem podologia, aconselhamento nutricional e atenção dermatológica. E este grupo possivelmente apresenta maior consciência da importância dos cuidados com o corpo e pele para um melhor desempenho esportivo.

A conclusão do estudo revela que a prevalência global de dermatoses em atletas de elite foi significativamente menor em comparação ao grupo recreativo, especialmente aquelas doenças inflamatórias, infecciosas, traumáticas e sebáceas. Não houve diferença no grupo geral para lesões cancerígenas (possivelmente pela idade limite do estudo de 35 anos). As dermatoses também foram mais comuns em mulheres e com o aumento da idade. Atletas que treinam de 9-15h/semana tiveram menos dermatoses do que aqueles que se exercitam menos.

Portanto, os resultados mostram que a prática intensiva de esportes tem um efeito positivo na saúde da pele. Pesquisas futuras podem ajudar a compreender melhor o impacto dos diferentes esportes sobre o maior órgão do nosso corpo.  

.Fonte: Liebich C, Wegin VV, Marquart C, Schubert I, von Bruehl ML, Halle M, Oberhoffer R, Wolfarth B. Skin Diseases in Elite Athletes. Int J Sports Med. 2021 Dec;42(14):1297-1304. doi: 10.1055/a-1446-9828. Epub 2021 May 11. PMID: 33975368.