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O tratamento da osteoporose com anti-reabsortivos reduz a mortalidade geral
Escrito por
Erik Trovao
Publicado em
30/3/2023
A osteoporose é uma doença osteometabólica com elevada prevalência tanto em homens quanto em mulheres e associada a uma alta morbimortalidade decorrente das fraturas de fragilidade que acarreta. Após uma fratura de quadril, por exemplo, estima-se um aumento de mortalidade de 20% após o primeiro ano. Ainda não há uma explicação bem definida para este aumento de mortalidade, mas talvez tenha relação com a idade mais avançada no momento da fratura e a presença de comorbidades.
A boa notícia é que recente publicação de um estudo populacional de Taiwan demonstrou que as principais drogas anti-reabsortivas utilizadas no tratamento da osteoporose não apenas reduzem o risco de fratura, mas também tem impacto positivo sobre a mortalidade geral.
O estudo incluiu 46.729 indivíduos com 40 anos ou mais (média de idade de 74 anos), sendo 80% do sexo feminino, que apresentaram alguma fratura osteoporótica e iniciaram algum tratamento anti-reabsortivo entre os anos de 2009 e 2017. A média de seguimento foi de 4,73 anos e o objetivo foi avaliar o efeito dos diferentes anti-reabsortivos sobre a mortalidade por todas as causas.
Foram avaliados os efeitos dos seguintes anti-reabsortivos: alendronato, risedronato, ibandronato, ácido zoledrônico e denosumabe. O grupo de indivíduos em uso de raloxifeno ou de bazedoxifeno foi selecionado como grupo de comparação, considerando a menor eficácia destes SERMs e seu maior potencial para serem neutros em relação à mortalidade.
Ao final do estudo, 32% dos indivíduos morreram. Mas, comparados aos SERMs, independente do sítio inicial de fratura, os bisfosfonatos (com exceção do ibandronato) e o denosumabe mostraram significativa menor mortalidade.
Quando a análise foi feita para cada sítio de fratura isolado, como fratura vertebral ou de quadril, o mesmo resultado foi encontrado. Comparando os dois gêneros, o resultado foi positivo em ambos, embora a redução de mortalidade tenha sido maior nas mulheres.
Os resultados deste estudo vêm não apenas reforçar a importância do tratamento com drogas anti-osteoporose como desequilibra ainda mais a balança do risco-benefício a favor dos anti-reabsortivos. Afinal, os mais temidos riscos associados a esta categoria, como osteonecrose de mandíbula e fraturas atípicas, são bastante raros. Temos, portanto, mais um argumento para convencer aqueles pacientes que temem iniciar alguma destas drogas pelo receio dos efeitos adversos.
Os resultados também puxam ainda mais o ibandronato para o fundo do poço. Droga cada vez mais sem protagonismo no tratamento da osteoporose por reduzir apenas o risco de fraturas vertebrais, o ibandronato parece agora ser o único bisfosfonato que não reduz a mortalidade por todas as causas. Um resultado que pode ser, talvez, explicado exatamente por seu efeito restrito sobre as vértebras.
Embora estes achados indiquem um possível efeito pleiotrópico dos demais bisfosfonatos, assim como do denosumabe, sobra uma dúvida para a qual os cientistas ainda não têm uma resposta definida: como exatamente funcionaria esse efeito? Qual seria o mecanismo que levaria à redução de mortalidade por todas as causas? Apenas a proteção contra fraturas seria suficiente?
Enquanto as respostas não chegam, uma certeza nós temos: a osteoporose não pode ser negligenciada e o tratamento com drogas eficazes deve ser iniciado o mais precocemente possível.