Alopecia Areata: Da Definição À Evolução.

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A Alopecia Areata (AA) é uma patologia em que ocorre uma queda abrupta de pelos de forma não cicatricial dos folículos pilosos. É uma doença imunomediada por linfócitos que agridem o bulbo do pelo promovendo o seu precoce desprendimento da pele. O couro cabeludo é o principal local de aparecimento, porém qualquer área pilosa pode ser acometida.

Placa de Alopecia Areata.

Fonte: Strazzulla et ap, 2018.

Acomete quase 2% da população mundial, e pode acometer diversas faixas etárias, mas a maioria dos estudos sugere surgir mais antes dos 40 anos.

Possui uma fisiopatogenia complexa e poligênica, com fatores genéticos e fatores desencadeadores ambientais, sendo motivo de consulta ao dermatologista.

Gatilhos ambientais mais relatados na literatura estão estresse físico ou emocional, vacinação, doenças febris ou medicamentos.

A AA está associada também a diversas doenças como depressão, ansiedade e várias doenças auto-imunes como doenças da tireóide (hipo e hipertireoidismo), vitiligo, lupus eritematoso, psoríase, artrite reumatóide e doença inflamatória intestinal. Há maior associação de atopia com pacientes diagnosticados com AA.

Estudos genéticos subsequentes validaram ainda mais o papel dos genes da região HLA. Por exemplo, 14 loci genéticos foram identificados, um locus, em particular, abrigando os genes que codificam o receptor de célula natural killer (NK) D (NKG2D) foi implicado exclusivamente na AA.

Atualmente estudos de perfil de expressão gênica revelaram assinaturas predominantes da via do Interferon gama e suas citocinas relacionadas, bem como as células T citotóxicas, ambas mediadas por JAK quinases como seus efetores a jusante.

A AA pode a ser classificada, clinicamente, em:

- AA em placas/irregular: uma ou mais áreas sem pelos de aspecto em moeda.

- AA total: perda total, ou quase total, dos pelos do couro cabeludo.

- AA universal: perda total, ou quase total, dos pelos de toda superfície corporal.

- AA incógnita: queda de cabelo total difusa com teste de tração positivo, pontos amarelos, pêlos curtos, miniaturizados em crescimento, mas sem envolvimento ungueal.

- AA padrão ofiásico: queda de cabelo em forma de faixa ao longo da circunferência da cabeça, mais especificamente ao longo da borda dos ossos temporal e occipital.

a) AA em placas; b) AA em placas/irregular extensa; c) AA em placa com seta indicando pelo em exclamação; d) AA universal; e) AA ofiásica; f) Permanência dos pelos brancos na AA; e g) Pittings ungueais. Fonte: Sterkens et al., 2021.

Áreas de alopecia devem sempre ser examinadas por dermatoscopia – chamada de Tricoscopia- para que o diagnóstico seja sugerido. O achado dermatoscópico mais característico são pelos distróficos do tipo “ponto de exclamação”. Também a ausência de cicatriz na área de alopecia – com a presença de pontos amarelos nas aberturas foliculares- corrobora com alta suspeição da AA.

Na maioria das vezes, a biópsia da lesão para o exame histopatológico não precisa ser realizada, já que o quadro clínico e a tricoscopia são característicos, mas é importante saber que o exame revela infiltração linfocítica peribulbar, lembrando um “enxame de abelha”.

Fonte: Sterkens et al., 2021.

Fonte: Sterkens et al., 2021.

A AA pode acometer as unhas com o aparecimento de pittings ungueais. E pode ser um sinal de gravidade em relação à queda de cabelo.

E por fim, a evolução da doença é imprevisível, pode ser autolimitada, ou apresentar progressão, ou ter recidivas e remissões. Ressalta-se que pacientes com alopecia total e alopecia universal crônica podem perder a capacidade de crescer o cabelo futuramente. Mas centros de referência indicam que 34 a 50% dos pacientes se recuperam espontaneamente dentro de 1 ano, embora a maioria apresente vários episódios de alopecia durante a vida.

REFERÊNCIAS

Sterkens A, Lambert J, Bervoets A. Alopecia areata: a review on diagnosis, immunological etiopathogenesis and treatment options. Clin Exp Med. 2021 May;21(2):215-230. doi: 10.1007/s10238-020-00673-w. Epub 2021 Jan 1. PMID: 33386567.

Strazzulla LC, Wang EHC, Avila L, Lo Sicco K, Brinster N, Christiano AM, Shapiro J. Alopecia areata: Disease characteristics, clinical evaluation, and new perspectives on pathogenesis. J Am Acad Dermatol. 2018 Jan;78(1):1-12. doi: 10.1016/j.jaad.2017.04.1141. PMID: 29241771.

uárez-Rendón KJ, Rivera Sánchez G, Reyes-López MÁ, García-Ortiz JE, Bocanegra-García V, Guardiola-Avila I, Altamirano-García ML. Alopecia Areata. Current situation and perspectives. Arch Argent Pediatr. 2017 Dec 1;115(6):e404-e411. English, Spanish. doi: 10.5546/aap.2017.eng.e404. PMID: 29087123.