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Agonistas de GLP1 interferem no preparo para colonoscopia?

Escrito por
Luciano Albuquerque
Publicado em
17/3/2025

Os agonistas de GLP1 (aGLP1) já se consolidaram na prática clínica de diversas especialidades médicas. Os aGLP1 têm alta potência na redução dos níveis glicêmicos, redução de desfechos cardiovasculares e microvasculares, sendo agente de primeira linha no tratamento do diabetes tipo 2. Além disso, trata-se da classe de medicamentos com resultados mais expressivos na redução do peso, com benefícios em condições associadas a obesidade como insuficiência cardíaca, apneia do sono e doença hepática esteatótica.
Dentre seus efeitos, os aGLP1s afetam a motilidade gastrointestinal, retardando o esvaziamento gástrico, com impacto nos resíduos observados na endoscopia. Entretanto, os dados disponíveis sobre seu efeito na adequação do preparo para colonoscopia ainda são limitados.
Nesse contexto, temos um artigo publicado em outubro de 2024, na revista Endoscopy, com dados de 4876 pacientes em uso de aGLP1 submetidos a colonoscopia. Neste grupo, o preparo foi considerado inadequado em 10% dos casos em comparação com 4% do grupo controle (P<0,001). A análise de subgrupo mostrou uma taxa mais alta de falha no preparo entre pacientes diabéticos tratados com aGLP1 (284/2364 [12%]) do que entre pacientes diabéticos sem tratamento com esses agentes (118/2364 [5%]; P<0,001). Além disso, 203/2512 pacientes não diabéticos tratados com aGLP1 tinham falha no preparo (8%) em comparação com 79 do grupo não diabético sem aGLP1 (3%; P<0,001). Na análise multivariada, o diabetes e o uso de aGLP1 foram considerados fatores de risco independentes para PIB (odds ratio [OR] 1,4 e OR 2,7, respectivamente; ambos P<0,001).
Uma metanálise mais recente, envolvendo 11 mil participantes, mostrou achados similares. Entre os pacientes usando agonistas de GLP-1, 11% tiveram preparação intestinal inadequada, em comparação com 5% dos controles.
Considerando seu mecanismo de ação e os efeitos clínicos observados, os agonistas de GLP-1 podem prejudicar a qualidade da preparação intestinal, tanto por menor tolerância aos protocolos de preparação intestinal, quanto por retardo do trânsito colônico. A suspensão do uso de agonistas de GLP-1 antes da colonoscopia parece razoável, pois pode melhorar a probabilidade de um procedimento bem-sucedido, com menor risco de aspiração, sendo improvável que cause quaisquer danos. O prazo específico de suspensão segue motivo de debates, com entidades recomendando de 1 a 3 vezes o tempo de meia vida dos agentes em uso.