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Adoçante pode aumentar o risco cardiovascular?
Escrito por
Luciano França de Albuquerque
Publicado em
13/6/2024
Durante muitos anos a comunidade científica e a população em geral estavam convencidos de que os adoçantes artificiais eram benéficos porque reduzem a ingestão excessiva de açúcar e, portanto, as calorias ingeridas, reduzindo assim o ganho de peso e consequentemente o risco cardiovascular. Uma declaração recente da OMS divulgada em maio de 2023 fez uma recomendação contra o uso de adoçantes para controle do peso corporal ou para reduzir o risco de doenças não-transmissíveis. O relatório sugere que “pode haver potenciais efeitos indesejáveis com o uso prolongado de adoçantes, como um aumento do risco de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e mortalidade, tomando como referência uma revisão sistemática.
Já os açucares com caloria reduzida e os polióis (entre eles o xilitol) ficaram fora dessa recomendação. O xilitol tem dulçor similar ao açúcar, mas com menor quantidade de calorias (2.4kcal/g vs 4 kcal/g), sendo até então reconhecido como seguro pelos órgãos regulatórios. Sobre o tema, um estudo publicado no European Journal of Cardiology demonstrou que indivíduos com maior consumo de xilitol apresentaram maior incidência de eventos cardiovasculares, em um seguimento de 3 anos. Os autores demonstraram ainda que o xilitol induz aumento na ativação, adesão e agregação de plaquetas. A análise dos dados foi ajustada para idade, gênero, diabetes, hipertensão, LDL, HDL, triglicerídeos e PCR, reduzindo os fatores de confusão.
O estudo, contudo, apresenta uma série de limitações. A principal é tratar-se de um estudo observacional, sem grupo placebo e não cego. Além disso, apesar dos ajustes das características basais entre os grupos, não houve maior controle de possíveis interferentes ao longo do período de intervenção, como dieta ou modificação de peso. Esse conjunto de fatores torna o resultado definidor de associação, mas não de causalidade, demandando novos estudos para esclarecer o tema.
Ensaios controlados randomizados não avaliaram diretamente o impacto dos diferentes adoçantes em desfechos rígidos, como risco de DCV. Dados prospectivos permanecem limitados e o nível de evidência para essas associações ainda é considerado baixo. Os efeitos nocivos do consumo excessivo de açúcares nesse contexto já foram amplamente estudados, sendo reconhecidos como fatores de risco pelas autoridades de saúde pública. Diante das dúvidas, devemos considerar outras maneiras de reduzir a ingestão de açúcares livres, como estimular o consumo de alimentos in natura.Manter hábitos saudáveis e a prática regular de exercícios físicos são outras medidas efetivas na redução de riscos e melhora na qualidade de vida.