Ácido zoledrônico para prevenção de osteoporose?

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Sabemos que, após a menopausa, ocorre aceleração da perda de massa óssea consequente ao hipoestrogenismo, o que aumenta bastante o risco de osteoporose e de fraturas, especialmente entre mulheres idosas. No entanto, a maioria das estratégias para prevenir fraturas foca naquelas pacientes que já apresentam densidade mineral óssea (DMO) reduzida, idade mais avançada ou que já apresentaram fratura (prevenção secundária). Mas não seria melhor prevenir a perda de massa óssea precocemente, mantendo a DMO mais próxima do normal às mulheres mais jovens?

 

Foi exatamente isso que recente estudo publicado na The New England Journal of Medicine avaliou. O objetivo foi determinar se infusões de ácido zoledrônico na fase inicial da pós-menopausa previnem fraturas vertebrais no futuro. Para isso, foram selecionadas mulheres entre 50 e 60 anos que estavam na pós-menopausa, sendo excluídas aquelas com: T-escore de -2.5 ou menos; doenças sistêmicas ou osteometabólicas; fratura vertebral clínica ou de quadril prévias; uso de qualquer bisfosfonato ou de terapia de reposição estrogênica nos 12 meses anteriores; uso prévio de ácido zoledrônico por qualquer motivo; uso de glicocorticoide nos 6 meses anteriores.

 

As pacientes foram randomizadas em três grupos:

 

1.       Grupo zoledronato-zoledronato: recebiam uma infusão de ácido zoledrônico 5mg no basal e outra 5 anos depois.

2.       Grupo zoledronato-placebo: recebiam uma infusão de ácido zoledrônico 5mg no basal e uma infusão de solução salina 5 anos depois.

3.       Grupo placebo-placeno: recebiam apenas infusões de solução salina no basal e após 5 anos.

 

Ao final, foram incluídas 1054 mulheres, com idade média de 56 anos, sendo que 1003 delas completaram os 10 anos de seguimento. O desfecho primário, ocorrência de nova fratura vertebral morfométrica (avaliada por radiografia de coluna), ocorreu em 22 mulheres (6,3%) no grupo zoledronato-zoledronato, em 23 (6,6%) mulheres no grupo zoledronato-placebo e em 39 mulheres (11,1%) no grupo placebo-placebo. Desta forma, a aplicação de duas infusões de ácido zoledrônico com intervalo de 5 anos reduziu em 44% o risco relativo de fraturas vertebrais morfométricas e a infusão de uma única dose reduziu em 41% o risco relativo, quando comparados ao placebo.

 

Os grupos que fizeram infusão de ácido zoledrônico também conseguiram manter DMO mais alta do que o grupo placebo durante os 10 anos de seguimento, tanto em coluna quanto em quadril. Os marcadores de turnover ósseo permaneceram suprimidos e estáveis durante os 10 anos no grupo que recebeu duas infusões de zoledronato. Mas mesmo no grupo que fez apenas a infusão no basal, os marcadores, embora tenham começado a subir após 5 anos, permaneceram suprimidos quando comparado ao grupo placebo.

 

Desta forma, os autores concluíram que a infusão de ácido zoledrônico na fase inicial da pós-menopausa seguida de outra infusão com 5 anos foi efetiva em reduzir o risco de fratura vertebral morfométrica. Os autores reforçam a segurança do uso da medicação, especialmente quando infusões infrequentes são feitas com pouco efeito cumulativo. Reforçam também o baixo custo da medida preventiva (pelo menos na Nova Zelândia, onde o estudo foi conduzido). Vale ressaltar que todas as mulheres incluídas tinham descendência europeia, de forma que se deve ter cuidado ao extrapolar os dados para outras etnias.

 

De todo modo, esses resultados apontam para uma possível nova intervenção preventiva para osteoporose, além do que já fazemos habitualmente: suplementação de cálcio e vitamina D e estímulo à prática de atividades físicas. Naquelas mulheres que não podem ou não querem fazer terapia hormonal da menopausa (que sabidamente já previne a perda de massa óssea), a infusão infrequente de ácido zoledrônico poderia ser uma boa opção para prevenção de futuras fraturas.