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A raça influencia os resultados da hemoglobina glicosilada?
Escrito por
Luciano Albuquerque
Publicado em
3/1/2025
A hemoglobina glicosilada (HbA1c) é utilizada como método para avaliar o controle glicêmico em pacientes com diabetes desde 1976. A sua relação matemática com a glicemia média e a associação com desfechos macro e microvasculares já é bem estabelecida. Os grandes estudos DCCT (em pacientes com DM1) e UKPDS (em DM2) estabeleceram a HbA1c como o principal fator de risco modificável para complicações de longo prazo. Assim, as diversas diretrizes estabeleceram metas de HbA1c para o diagnóstico e tratamento de pacientes com diabetes.
Estudos anteriores sugerem que os níveis médios de glicemia em determinados valores de HbA1c diferem entre os grupos raciais, mas poucos estudos incluíram o monitoramento contínuo da glicose (CGM) para avaliar esta observação. Analisando dados derivados do estudo GRADE, os pesquisadores examinaram se as correlações entre o nível de HbA1c e a glicemia média registrada pelo CGM diferiam entre os grupos raciais.
Foram analisados dados de cerca de 1.500 participantes, a maioria identificada como branca não-hispânica e negra não-hispânica. Após o ajuste, as correlações entre o nível de HbA1c e a glicose média foram significativamente diferentes nos participantes negros quando comparados aos demais grupos. Por exemplo, considerando valores médios de glicose variando de 100 a 250 mg/dL, os resultados de HbA1c foram 0,2 a 0,6 pontos percentuais mais elevados em participantes negros não-hispânicos do que em participantes brancos não-hispânicos. Hemoglobinopatia, doença renal cronica ou anemia não influenciaram nessas diferenças de HbA1c.
Tais observações têm evidentes implicações clínicas que podem afetar o sobrediagnóstico e o sobretratamento para alguns pacientes negros não-hispânicos. Como as diferenças na HbA1c entre grupos raciais são médias para um determinado nível de glicemia, as discrepâncias podem ser ainda maiores para alguns indivíduos. Apesar das várias limitações neste estudo, devemos considerar essa possibilidade de variabilidade inter-racial, especialmente quando os níveis de HbA1c e os de glicose parecerem discordantes. Os mecanismos para estas diferenças ainda não são claros, mas os autores observaram diferenças similares na albumina glicada, sem interferencia de condições que afetam o turnover eritrocitário, sugerindo que as diferenças iem mecanismos de glicosilação dessas proteinas fosse o principal fator implicado.
Independentemente da explicação para as diferenças inter-raciais na relação entre HbA1c e glicemia média, os autores consideram que deve ser considerado o estabelecimento de diferentes alvos de HbA1c de acordo com a raça. Se o limiar de HbA1c para o diagnóstico de diabetes também deva deve ser específico, seria mais um tópico a ser explorado.