A importância do consumo adequado de proteínas em idosos?

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As proteínas são elementos essenciais em diversos processos do metabolismo humano. Da estrutura celular à imunidade, diversos processos dependem do aporte adequado de aminoácidos, elementos fornecidos por essa classe de alimentos. Um papel de destaque é a manutenção da massa muscular, particularmente em idosos.

Redução de apetite, comportamento sedentário, resistência à insulina e presença de comorbidades que cursam com quadros inflamatórios são fatores de risco para um aporte ou utilização inadequada das proteínas no metabolismo dos indivíduos idosos, podendo predispor à sarcopenia, condição sabidamente atrelada a maior morbimortalidade.

Para preservar a função física e a manutenção da saúde, as recomendações de ingestão de proteínas para indivíduos idosos saudáveis situam-se entre 1 e 1,2 g/kg de peso por dia (g/kg/d). Embora os adultos mais velhos possam necessitar de mais proteínas, a ingestão elevada poderia acelerar a progressão da doença entre aqueles com doença renal crônica (DRC), uma condição prevalente em idosos. De acordo com as diretrizes atuais, os adultos com DRC leve (estágios 1 e 2) são aconselhados a evitar uma ingestão elevada de proteínas (>1,30 g/kg/d), e aqueles com DRC moderada ou grave (estágios 3-5 sem receber diálise) são aconselhados a restringir a ingestão de proteínas para ≤ 0,80 g/kg/d.

Particularmente nessa população idosa com DRC, a questão das fontes de proteínas também ganha destaque. A proteína vegetal pode ter um impacto menor nos néfrons remanescentes, mitigar a hiperfiltração glomerular, reduzir a proteinúria, preservar a função renal e proteger contra distúrbios metabólicos, enquanto a proteína de origem animal tem maior valor biológico e potencial anabólico, de modo que sua ingestão pode resultar em melhor estado nutricional.

Estudo recém-publicado na revista JAMA tenta esclarecer o tópico. Analisando dados longitudinais de três coortes, totalizando 8543 indivíduos com média de idade de 78 anos, os autores buscaram associações da ingestão total de proteínas, de origem animal e vegetal, com a mortalidade por todas as causas em pessoas idosas com DRC leve ou moderada, avaliando ainda as diferenças entre participantes com menos de 75 anos e aqueles com 75 anos ou mais.

Uma maior ingestão total de proteínas foi associada a menor mortalidade entre participantes com DRC; A taxa de risco ajustada (HR) para 1,00 vs 0,80 g/kg/d foi de 0,88 (IC 95%, 0,79-0,98); para 1,20 vs 0,80 g/kg/d, 0,79 (IC 95%, 0,66-0,95); e para 1,40 vs 0,80 g/kg/d, 0,73 (IC 95%, 0,57-0,92). As associações com mortalidade foram comparáveis para proteína vegetal e animal e para participantes com menos de 75 anos versus 75 anos ou mais. No entanto, os riscos foram menores entre os participantes sem DRC do que naqueles com DRC (HRs, 0,85 [IC 95%, 0,79-0,92] e 0,92 [IC 95%, 0,86-0,98] por incremento de 0,20 g/kg/d, respectivamente ; P = 0,02 para interação).

A deficiência de proteínas em idosos pode causar comprometimentos da função muscular, esquelética e imunológica, enquanto uma maior ingestão tem sido associada à preservação da massa e força muscular, maior densidade mineral óssea, menor risco de fragilidade e melhor função cardiovascular e recuperação de doenças (incluindo cicatrização de feridas). Os dados apresentados sugerem que os benefícios das proteínas podem superar os riscos em adultos mais velhos com DRC leve ou moderada, nos quais a progressão da doença pode desempenhar um papel mais limitado na sobrevivência.