Uma breve revisão sobre as alterações fisiológicas dos sistemas cardiovascular na gestação

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A gestação é um fenômeno fisiológico que provoca alterações significativas nos diversos sistemas do organismo humano. Com a progressão da gestação e o crescimento uterino ocorre a elevação do diafragma, causando um discreto desvio do eixo elétrico para a esquerda. Podem ocorrer alterações na ausculta cardíaca, com o surgimento de sopros sistólicos, desdobramento de bulhas e extrassístoles. Por vezes pode ser encontrado sopro sistólico em foco aórtico acessório. A volemia aumenta cerca de 50% comparativamente ao estado não gravídico, sendo que o seu pico ocorre no terceiro trimestre. A frequência cardíaca também eleva.

 A pressão arterial é o débito cardíaco multiplicado pela resistência periférica. Mesmo com o aumento pronunciado do débito cardíaco, ocorre diminuição acentuada da resistência periférica pela redução do tônus simpático e desenvolvimento de refratariedade à angiotensina II. Essa diminuição da resistência periférica ocorre pela tentativa do organismo de tornar o território placentário um local de baixa resistência, garantido a sua perfusão. Consequentemente, a pressão arterial irá sofrer redução em cerca de 5 a 10 mmHg na sistólica e em 10 a 15 mmHg na diastólica (até a 32ª. semana de gestação). No termo, os níveis pressóricos voltam a normalizar. Também ocorre um aumento na pressão venosa por compressão uterina da veia cava, o que aumenta o risco de hemorroidas, varizes e edema em membros inferiores.

A produção eritrocitária tem um incremento de cerca de 30 a 33%. Este aumento é crescente, atingindo um pico no terceiro trimestre da gestação. Entretanto, o aumento da volemia ocorre em cerca de 50%. Consequentemente a gestante terá hemodiluição, um vez que o aumento do volume plasmático é superior ao aumento do número de hemácias. Por esse motivo é posto que a gestante tem um quadro de anemia fisiológica. 

Observa-se também um aumento do numero de leucócitos na gestação. Apesar disso, ocorre piora na função leucocitária, com diminuição da imunidade humoral e celular levando a uma maior suscetibilidade a infecções. As plaquetas também tendem a diminuir na gestação. Os níveis séricos dos fatores pró-coagulantes também têm um aumento enquanto os do sistema fibrinolítico diminuem. Essa alteração leva a um estado de hipercoagulabilidade. Por este mecanismo, gestantes têm maior risco de fenômenos tromboembólicos.

REFERÊNCIA:  Cunningham F et al. Williams Obstetrics. 26ª ed. McGraw Hill. 2022.