Tratamento das lesões de alto grau do colo uterino em cenários específicos

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As lesões intraepiteliais (LIE) de alto grau do colo uterino (NIC 2 e 3) passam a ter incidência significativa a partir dos 25 anos de idade. A conduta que costuma ser indicada na maioria dos casos é a excisão da Zona de Transformação (ZT) que pode ser realizada com alça de alta frequência ou bisturi a frio. Entretanto, a conduta pode variar em cenários específicos de acordo com as condições apresentadas pela paciente.

Quando as lesões de alto grau ocorrem na gestação, o risco de desfecho obstétrico desfavorável é alto, caso a conduta cirúrgica seja realizada. Como a velocidade de progressão para doença invasiva em gestantes é baixa, recomenda-se conduta conservadora. Diante de uma citologia com LIE de alto grau, atipias em células escamosas em que não se pode excluir lesão de alto grau (ASC-H) ou Atipias em Células Glandulares (AGC), recomenda-se a colposcopia com biópsia dos achados. O objetivo da biópsia é excluir a possibilidade de doença invasiva. Se a histologia confirmar a presença de NIC 2 ou 3, a conduta é reavaliar 90 dias após o parto.

Outro cenário clínico muito comum é o caso de paciente já com prole constituída. Mesmo não havendo mais desejo de gestar, a histerectomia nunca deve ser indicada como abordagem inicial de pacientes com lesões de alto grau. A conduta é a excisão da ZT, pois sempre existe o risco de doença invasiva no restante da peça. Portanto, se foi realizada histerectomia e foi encontrada doença invasiva no restante da peça, a paciente terá sido subtratada.

De acordo com a diretriz oficial do Ministério da Saúde, o rastreamento do câncer cervical não deverá ser realizado em pacientes com menos de 25 anos. As chances de regressão espontânea da NIC 2 ou 3 em menores de 25 anos é maior do que nas pacientes com mais idade. Além disso, costumam ser pacientes que ainda não têm prole constituída. Por essa razão, pode ser proposta conduta conservadora. Portanto, diante de uma citologia com LIE de alto grau, ASC-H ou AGC, recomenda-se a colposcopia com biópsia dos achados, com o objetivo de excluir doença invasiva. Se a histologia confirmar a presença de NIC 2 ou 3, a conduta conservadora com acompanhamento semestral (citologia e colposcopia) por até dois anos pode ser proposta para a paciente. Em maiores de 25 anos também pode ser proposta essa conduta, mas há menos suporte na literatura científica.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Portaria nº 497, de 9 de maio de 2016. Aprova as Diretrizes Brasileiras para Rastreamento do Câncer do Colo do Útero. Brasília: Diário Oficial da União, 2016. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/pcdt/arquivos/2021/diretrizes-brasileiras-para-o-rastreamento-cancer-colo-do-utero1.pdf/view. Acesso em: 19 jan. 2024.

FERNANDES, C. E.; SÁ, M. F. Silva de (ed.). Tratado de Ginecologia Febrasgo. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.