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Sistema surfactante pulmonar e a sua deficiência entre prematuros
Escrito por
Cadu Carlomagno
Publicado em
16/2/2023
Carlos Eduardo Baldo Carlomagno
O surfactante pulmonar é produzido pelos pneumócitos tipo II a partir da 20ª semana de gestação, porém somente atingem níveis adequados entre 34 e 35 semanas.
É uma substância lipoproteica composta 90% por lipídios, sendo o mais representativo a fosfatidilcolina, e 10% por proteínas. As proteínas A e D são hidrossolúveis e têm importante ação imunológica, enquanto as proteínas B e C são hidrofóbicas, sendo responsáveis pela ação do surfactante no alvéolo pulmonar.
Figura 1: surfactante recobrindo alvéolo recrutado. Disponível em: https://www.tuasaude.com/surfactante/. Acesso em: 26 out 2022.
Essas proteínas (B e C) reduzem a tensão superficial dos alvéolos na interface líquido-ar, resultando em aumento de sua capacidade residual, diminuição do volume e pressão necessários para manter o alvéolo recrutado e realização de trocas de gases adequadamente.
O advento da reposição exógeno do surfactante pulmonar extraído de porcos e bois na década de 1990 revolucionou a Neonatologia sendo, junto com uso do corticoide antenatal, um grande responsável pela sobrevida de bebês cada vez mais prematuros e com pulmões em estágios mais imaturos de desenvolvimento pulmonar.
Recém-nascidos com deficiência de surfactante ao nascimento têm dificuldades em abrir os pulmões ou mantê-los abertos, evoluindo com graus diversos de insuficiência respiratória aguda.
Figura 2: RX de tórax de RN com deficiência de surfactante, mostrando pulmões com microatelectasia e infiltrado em vidro moído. Disponível em: http://learningradiology.com/notes/chestnotes/hyalinemembranepage.htm. Acesso em: 26 out 2022.
Em geral, beneficiam-se de pressão positiva (preferencialmente via CPAP) desde a sala de parto, para auxiliar no recrutamento alveolar. Caso precisem de pressões iguais ou maiores a 7cmH2O e/ou FiO2 entre 30-35%, recomenda-se a administração terapêutica precoce de surfactante pulmonar (nas primeiras 2 horas de vida), preferencialmente via não invasiva através de cateteres finos (mediante adequado treinamento da equipe neonatal) na dose de 100-200 mg/kg.
Após a sua administração, espera-se melhora do desconforto respiratório e a possibilidade de reduzir FiO2 e parâmetros ventilatórios, assim como RX de tórax controle com campos mais aerados e gasometria arterial com reversão da acidose respiratória e/ou da hipoxemia.
Se necessário, pode ser repetido até outras 2 doses (geralmente de, no máximo, 100 mg/kg/dose) até 48 horas de vida, tempo a partir do qual espera-se haja um aumento na produção endógena do surfactante, não sendo mais necessária a sua reposição exógena de forma habitual.