Por que recém-nascidos são policitêmicos?

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Devemos nos lembrar que a pressão parcial de oxigênio (PaO2) do feto é baixa, na ordem de, no máximo, 60%. Porém, o feto é um ser em constante crescimento e com alta demanda metabólica. Portanto, se tem baixa oferta de oxigênio circulante, é necessário aumentar o transportador de oxigênio (hemoglobina), garantindo assim que o pouco oxigênio será de fato encaminhado para os diversos órgãos e tecidos.

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E eis que entram em ação os rins do feto, que percebem a baixa PaO2 e liberam a eritropoietina (EPO). Ela será responsável por aumentar a produção extramedular de hemoglobina, aumentando assim o conteúdo arterial de oxigênio (maior transporte do escasso oxigênio circulante).

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Por esse motivo, é esperado que recém-nascidos a termo tenham hemoglobinas próximas a 18 g/dL e hematócritos de 55%, conferindo uma coloração violácea (pletora), notada ainda mais quando choram. Os pais ou equipes de saúde menos treinadas, muitas vezes interpretam essa cor como cianose central, quando de fato não há nada patológico acontecendo com o bebê.

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Vale lembrar também que, na maioria das vezes, essa policitemia não acarreta nenhum prejuízo para o bebê, podendo somente intensificar as taxas de icterícia neonatal, com eventual necessidade de fototerapia. Porém, caso o hematócrito esteja acima de 65%, há risco de hiperviscosidade, que é quando a perfusão para órgãos e tecidos começa a ficar prejudicada, podendo levar à apneia, hipoglicemia, hipertensão pulmonar persistente, entre outras manifestações clínicas.

Finalmente, é importante ressaltar que após o nascimento, o aumento da PaO2 do recém-nascido faz mecanismo de feedback negativo, inibindo a liberação renal de EPO, fazendo com que a medula óssea volte a assumir a produção da hemoglobina. Isso pode demorar de 2 a 4 semanas de vida, sendo a presença de reticulócitos > 1% o marcador de que a medula óssea voltou a estar ativa.

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