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Inibidores do SGLT2 em pacientes com doença renal estágio 5?
Escrito por
Luciano Albuquerque
Publicado em
29/7/2024
A doença renal diabética (DRD) é uma das principais complicações microvasculares, com elevada prevalência tanto no diabetes tipo 1 quanto no tipo2. Dados recentes apontam 700 milhões de pessoas em todo o mundo afetadas pela condição, que está associada a aumento em três vezes no risco de mortalidade por todas as causas. O rastreio é recomendado com base na avaliação da relação albumina/creatinina (RAC) em amostra isolada de urina e determinação da taxa de filtração glomerular, estimada pelo clearence de creatinina (TFGe). A DRD é definida diante do achado de TFGe <60 mL/min/1,73 m2 e/ou RAC ≥30 mg/g (ou ≥3 mg/mmol).
Ensaios clínicos randomizados demonstraram que os inibidores do cotransportador de sódio-glicose-2 (iSGLT-2) retardam a progressão da doença renal e a necessidade de diálise, sendo apontada como agente de escolha nessas situações. Os benefícios foram observados tanto em diabéticos quanto em não diabéticos. Entretanto, as várias diretrizes limitam o uso desses agentes a pacientes com TFGe ≥20 mL/minuto/1,73 m2, pela falta de dados naqueles com DRD em estágios mais avançados.
Um novo estudo, publicado na revista Annals of Internal Medicine, traz novas informações sobre o tema. Pesquisadores de Taiwan avaliaram retrospectivamente dados de quase 48.000 pacientes com diabetes tipo 2 e DRD estágio 5 (TFGe < 15 mL/minuto/1,73 m2) — metade dos pacientes tinha iniciado inibidores de SGLT-2 recentemente e metade não estava tomando esses medicamentos.
Os pacientes em uso de iSGLT2 tiveram risco significativamente menor de diálise (razão de risco ajustada aHR, 0,34) e de hospitalizações por insuficiência cardíaca (aHR, 0,80), infarto agudo do miocárdio (aHR, 0,61), cetoacidose diabética (aHR, 0,78) e lesão renal aguda (aHR, 0,8). A mortalidade por todas as causas foi semelhante nos dois grupos.
Reforçamos que se trata de um estudo retrospectivo, com todas as limitações e riscos inerentes de confusão residual, não levando a recomendação de prescrição dos iSGLT-2 em pacientes com doença renal avançada. No entanto, esta primeira análise mostra que esses agentes provavelmente estão associados a melhorias de desfechos importantes — incluindo menor progressão para diálise. Dados futuros são necessários para ampliar a faixa de utilização dos iSGLT2, garantindo benefícios para pacientes com DRD em estágios mais avançados.
Referência:
Yen F-S et al. Sodium–glucose cotransporter-2 inhibitors and the risk for dialysis and cardiovascular disease in patients with stage 5 chronic kidney disease. Ann Intern Med 2024 Apr 30; [e-pub]. (https://doi.org/10.7326/M23-1874)