Hormonização e anticoncepção em homens transgêneros

Compartilhe

Pessoas cisgênero são aquelas cuja identidade de gênero é congruente com o sexo biológico. Portanto, homens cisgênero são pessoas que se identificam com o gênero masculino e apresentam genitália igualmente masculina. O mesmo conceito é válido para mulheres cisgênero. Homens transgêneros são pessoas cujo sexo biológico é feminino, mas a identidade de gênero é masculina.

Após o acolhimento e avaliação multidisciplinar detalhada, se o homem transgênero desejar hormonização, o procedimento pode ser realizado se forem cumpridos os requisitos formais. É importante sempre oferecer a criopreservação dos oócitos antes de iniciar o processo de hormonização.

Os objetivos da hormonização em homens transgêneros são alteração do tom da voz, crescimento dos pelos, hipertrofia muscular, aumento do clitóris e amenorreia. A hormonização é realizada com testosterona, sendo os preparos mais utilizados o cipionato de testosterona ou o undecanoato por via intramuscular. É importante o acompanhamento trimestral do homem transgênero em processo de hormonização, com avaliação clínica e dosagem de testosterona sérica, que deve ficar na média da normalidade para o sexo biológico masculino (variável de acordo com cada laboratório, sendo a média de 150 a 800 ng/dL). Não é indicado que os níveis sejam suprafisiológicos. O estradiol também deve ser dosado, e o objetivo é que atinja níveis menores de 50 pg/dL. O hemograma também deve ser solicitado, uma vez que a hormonização pode provocar eritrocitose. Se o hematócrito estiver acima de 54%, a hormonização deve ser suspensa por pelo menos três meses. Caso seja desejo do paciente, o tratamento cirúrgico também pode ser oferecido a partir dos 18 anos. Consiste na histerectomia com salpingooforectomia bilateral. A mastectomia também pode ser oferecida.

Nos pacientes que não realizaram o tratamento cirúrgico, os rastreamentos devem ser mantidos dentro das mesmas recomendações para mulheres cisgênero. Se o paciente foi vítima de violência sexual, as profilaxias são as mesmas das mulheres cisgênero, incluindo anticoncepção de emergência.

Se o homem transgênero tiver atividade sexual penetrativa com homem cisgênero ou mulher transgênero, existe necessidade de anticoncepção, uma vez que a hormonização não garante anticoncepção, mesmo que o paciente esteja em amenorreia. Não é indicada a prescrição de métodos com estrogênio para pacientes em hormonização. Portanto, as possibilidades são DIU de cobre, DIU com levonorgestrel, implante subdérmico, injetável trimestral e pílula de progestogênio isolado.

REFERÊNCIAS

OKANO, Sérgio Henrique Pires; PELLICCIOTTA, Giovanna Giulia Milan; BRAGA, Giordana Campos. Aconselhamento contraceptivo para o paciente transgênero designado mulher ao nascimento. Femina, [Rio de Janeiro], v. 50, n. 9, p. 518-526, 2022. Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/pt/femina/item/1517-revista-femina-2022-vol-50-n-9. Acesso em: 19 jan. 2024.