Atenção para certos aspectos importantíssimos da nutrição parenteral

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A nutrição parenteral plena (NPP), também chamada de nutrição parenteral total (NPT), é fundamental para alimentarmos recém-nascidos (RN) que ainda não podem ser alimentados por via enteral, e que seriam muito prejudicados em receber somente um soro simples. Dentre suas principais indicações encontram-se prematuros com peso de nascimento inferior a 1250 g, prematuros de maior peso com intolerância alimentar, malformações gastrintestinais (como gastrosquise e onfalocele), entre outras. Como pediatras, precisamos atentar a alguns aspectos para otimizar a qualidade e a segurança de nosso NPP. A seguir, citarei os principais aspectos que fazem muita diferença no manejo parenteral em Neonatologia. I) Oferta hídrica da NPP de acordo com as condições clínicas do paciente. Em geral, para prematuros, inicia-se com 80-90 mL/kg/dia e incrementa-se 10 mL/kg/dia até atingir o valor médio de 150-160 mL/kg/dia. Se apresentar canal arterial patente com fluxo esquerda-direita, por exemplo, reduzir para 130-140 mL/kg/dia para evitar hiperfluxo pulmonar. Lembre-se também de considerar a oferta hídrica da nutrição enteral, caso esteja recebendo as duas modalidades nutricionais. II) Velocidade de infusão de glicose (VIG) – necessária para atingir calorias suficientes para garantir o crescimento somático do RN (e não apenas basal), e que mantenha glicemias capilares entre 80-140 mg/dL. Lembrar também de acompanhar a concentração de glicose (gramas de glicose divididos pelo volume total da NPP) de acordo com o acesso – se periférico até 12,5%, e se total até 25%. III) Aminoácidos em Pediatria devem conter taurina, que participa da neurogênese e ajuda a estabilizar a glicemia. Recomenda-se iniciar com 2 g/kg/dia e logo chegar no valor máximo de 3,5 g/kg/dia IV) Lipídios – por terem maiores calorias por grama quando comparados a carboidratos e proteínas, ajudam a estabilizar o balanço nitrogenado. Esse cálculo garante que, se entre 150 a 200 kcal : 1g N, os lipídios estão sendo usados ​​para garantir o metabolismo basal do bebê e as proteínas para compor o seu crescimento somático. Dar preferência a lipídios de maior valor nutricional: SMOF (soja, triglicérides de cadeia média, oliva e peixe). Se a dosagem de triglicérides para maior 250 mg/dL, deve-se reduzir a infusão de lipídios, nunca abaixo de 1 g/kg/dia, ou do contrário não se garante calorias mínimas. V) Eletrólitos devem ser ajustados aos controles séricos pelo menos semanais e revistos de acordo com as condições clínicas do RN (por exemplo: se inesperadamente anúrico, lembre-se de retirar o potássio da NPP). Lembrar que a quantidade máxima de cátions divalentes (Ca 2 + e Mg 2 +) deve ser de 16 mEq/L, e do contrário perde-se a estabilidade da solução e cria-se cristais que não devem ser infundidos para a corrente sanguínea. Além disso, bebês prematuros não possuem grandes reservas de cálcio e fósforo, e portanto devem receber quantidade máxima desses eletrólitos em controles intolerantes (1:1), de modo a tentar reduzir a doença metabólica óssea por baixa oferta desses nutrientes. Vale lembrar também que o total calculado deve incluir o sódio que vem junto com o fósforo orgânico. VI) Micronutrientes e polivitamínicos – é importante oferecer zinco (400 µg/kg) e selênio (5 µg/kg), além de outros oligoelementos e vitaminas (quantidades de acordo com as recomendações de cada laboratório). Crianças em jejum devem receber doses semanais paralelamente de vitamina K, 1 mg endovenosa, visto que do contrário as concentrações nos polivitamínicos podem levar à deficiência dessa vitamina, com distúrbios da coagulação e sangramentos. Os ajustes da NPP devem ocorrer diariamente, com base em peso, glicemias e condições clínicas. Pelo menos semanalmente colheu eletrólitos, uréia e creatinina, triglicérides, TGO/TGP, FA, GGT e BTF.