Transplante de microbiota vaginal: uma realidade próxima?

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A Transplante de Microbiota Vaginal (TMV) é uma abordagem terapêutica recente que visa restaurar o ambiente vaginal, transferindo microbiota de uma doadora saudável para uma receptora com uma disbiose vaginal diagnosticada. Esta técnica é inspirada no sucesso do transplante de microbiota fecal no tratamento de infecções intestinais, como a infecção por Clostridium difficile.[1][2]

A microbiota vaginal fisiológica é dominada por espécies de Lactobacillus que transformam o glicogênio do epitélio em ácido láctico, garantindo a acidez vaginal e, consequentemente, protegendo o ambiente contra infecções. No entanto, condições como a vaginose bacteriana são caracterizadas por uma diminuição dos lactobacilos e aumento de bactérias anaeróbias, podendo levar à sintomatologia clássica de corrimento e mau odor, além de um risco aumentado de infecções sexualmente transmissíveis e complicações na gravidez.

O TMV é uma abordagem emergente para o tratamento da vaginose bacteriana, especialmente em casos recorrentes e resistentes ao tratamento. A pesquisa de Lev-Sagie et al. (2019) foi pioneira ao explorar o uso de TMV em mulheres com vaginose bacteriana intratável, demonstrando que quatro de cinco pacientes alcançaram remissão completa a longo prazo, sem efeitos adversos significativos. No entanto, algumas pacientes necessitaram de transplantes repetidos para manter a remissão.[3]

A revisão de Luo et al. (2024) reforça a eficácia potencial do TMV, destacando que estudos em humanos e animais indicam a restauração de uma microbiota vaginal dominada por lactobacilos e a redução de citocinas inflamatórias como IL-1β e TNF-α. A revisão também menciona que há vários ensaios clínicos em andamento que podem fornecer evidências mais robustas sobre a eficácia do TMV.[4]

Um aspecto crítico do VMT é a triagem rigorosa de doadores, essencial para minimizar o risco de transmissão de patógenos e garantir a qualidade do material transplantado. O estudo de Yockey et al. (2022) descreve um protocolo de triagem aprovado pela FDA, que inclui a análise da viabilidade de lactobacilos e o uso de PCR quantitativo para identificar doadoras com microbiomas vaginais de boa qualidade.[5]

Essas descobertas científicas sublinham a necessidade de mais pesquisas, particularmente ensaios clínicos randomizados e controlados, para validar a eficácia e segurança do TMV como tratamento para vaginose bacteriana de repetição. Além disso, a triagem de doadoras continua sendo um desafio para o sucesso e segurança do procedimento. Apesar de ainda ser um procedimento experimental, as já reconhecidas chances de sucesso têm promovido otimismo da comunidade científica para tratamento de pacientes com vaginose bacteriana de repetição. Acreditamos que seja uma realidade em um futuro não tão distante.

Referências:

[1] Jawanda IK, Soni T, Kumari S, Prabha V. The Evolving Facets of Vaginal Microbiota Transplantation: Reinvigorating the Unexplored Frontier Amid Complex Challenges. Archives of Microbiology. 2024;206(7):306. doi:10.1007/s00203-024-04024-1.

[2] Ma D, Chen Y, Chen T. Vaginal Microbiota Transplantation for the Treatment of Bacterial Vaginosis: A Conceptual Analysis. FEMS Microbiology Letters. 2019;366(4):fnz025. doi:10.1093/femsle/fnz025.

[3] Lev-Sagie A, Goldman-Wohl D, Cohen Y, et al. Vaginal Microbiome Transplantation in Women With Intractable Bacterial Vaginosis. Nature Medicine. 2019;25(10):1500-1504. doi:10.1038/s41591-019-0600-6.

[4] Luo H, Zhou C, Zhou L, He Y, Xie RH. The Effectiveness of Vaginal Microbiota Transplantation for Vaginal Dysbiosis and Bacterial Vaginosis: A Scoping Review. Archives of Gynecology and Obstetrics. 2024;310(2):643-653. doi:10.1007/s00404-024-07611-1.

[5] Yockey LJ, Hussain FA, Bergerat A, et al. Screening and Characterization of Vaginal Fluid Donations for Vaginal Microbiota Transplantation. Scientific Reports. 2022;12(1):17948. doi:10.1038/s41598-022-22873-y.