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Obstrução intestinal por áscaris, devo prescrever ascaricidas?
Escrito por
Sabrina Santos
Publicado em
24/5/2023
O Ascaris lumbricoides é o helminto que infecta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e, devido à possibilidade de complicações graves, está relacionado a grande letalidade no Brasil.
É o maior dos helmintos e sua transmissão ocorre pela ingestão do ovo com a larva madura, que pode ocorrer tanto pela ingestão de água ou alimentos contaminados, quanto pela manipulação e ingestão de terra contaminada por fezes contendo esses ovos. O ovo eclode no intestino delgado e libera a larva que migra para o ceco onde atravessa a mucosa, atinge a via linfática ou venosa e passa pelo fígado, átrio direito, artérias pulmonares e por fim se aloja nos alvéolos, transforma-se, sobe vias aéreas até a faringe, é deglutida e vai se alojar na forma adulta no lúmen do intestino delgado para posterior postura de ovos que serão eliminados nas fezes deste hospedeiro.
As manifestações clínicas podem ser decorrentes tanto das infestações pelas larvas, quanto pelos vermes adultos. No caso das larvas, a manifestação mais importante é a Síndrome de Löeffler, que é a infestação larvária localizada no pulmão que acarreta uma pneumonite larvária, com sintomas de febre, tosse, expectoração e desconforto respiratório, podendo apresentar eosinofilia de moderada até intensa no hemograma. No caso de infestação por vermes adultos, pode ocorrer consumo de nutrientes levando à desnutrição e comprometimento do desenvolvimento ou complicações graves como suboclusão ou obstrução intestinal, conhecido como “bolo de áscaris”, com radiografia característica em “miolo de pão”.
Figura 1. Radiografia de abdome em ortostase evidenciando intensa distensão de alças de delgado e imagem em “miolo de pão”. Não se observam níveis hidroaéreos e existe ar na ampola retal.
DE SOUZA, Gustavo Barbosa Fernandes et al. INFESTAÃ Ã O MACIÃ A POR Ascaris lumbricoides: RELATO DE CASO. Biota Amazônia (Biote Amazonie, Biota Amazonia, Amazonian Biota), v. 4, n. 4, p. 102-107, 2014.
O diagnóstico pode ser feito por microscopia direta, parasitológico de fezes ou a visualização direta do verme adulto eliminado pela boca, nariz ou nas fezes.
O tratamento de primeira escolha, para os casos sem complicações, consiste no uso de albendazol dose única ou mebendazol por 3 dias.
Nos casos de obstrução, não há indicação imediata do uso de acaricidas, pois a morte dos vermes libera toxinas que podem levar à inflamação, paralisia, necrose e perfuração intestinal. Em caso de obstrução subaguda, o tratamento inicial consiste em hidratação venosa, aspiração nasogástrica e administração de óleo mineral. Caso não haja resolução, ainda pode ser utilizado enema com salina hipertônica ou gastrografina. O tratamento cirúrgico está reservado aos casos que não respondem a estas medidas ou na presença de sangramento retal ou toxemia, sendo recomendada a desobstrução mecânica (laparotomia associada à massagem do bolo em direção ao cólon), exceto nos casos em que há volvo intestinal, onde está recomendada a enterotomia.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: DOS SANTOS, Rodrigo Feijo. REGULAMENTO DOS DEPARTAMENTOS CIENTÍFICOS ARTIGO 1º-Da finalidade dos Departamento Científicos. 2019. Disponível em https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22207d-GPA_-_Parasitoses_intestinais_-_diagnostico_e_tratamento.pdf . Acesso em 24 maio 2023.