Misoginia na Medicina: Impactos na Saúde e no Atendimento das Mulheres

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A misoginia na medicina é um tema cada vez mais discutido, pois seu impacto transcende as barreiras profissionais e institucionais, afetando diretamente o atendimento, a saúde e o bem-estar das mulheres. Apesar dos avanços sociais e das reformas nos sistemas de saúde, a presença de atitudes e práticas misóginas persiste em diversos âmbitos da medicina, refletindo-se na forma como as mulheres são diagnosticadas, tratadas e até mesmo escutadas pelos profissionais de saúde. Neste contexto, é crucial compreender como essas atitudes prejudicam o atendimento médico e comprometem a saúde das pacientes, além de explorar estratégias para mitigar esses efeitos e construir um sistema mais inclusivo e justo.

O Que é Misoginia na Medicina?

A misoginia, que inclui atitudes e comportamentos que depreciam ou subestimam as mulheres, manifesta-se de maneira sutil ou explícita na prática médica. Na medicina, pode aparecer em formas que vão desde a desvalorização dos sintomas relatados por mulheres até a falta de representatividade feminina em pesquisas clínicas e políticas institucionais de saúde. Esse fenômeno ocorre tanto em interações diretas com as pacientes quanto em níveis estruturais, moldando práticas e protocolos que não atendem adequadamente as especificidades de saúde feminina.

Formas Comuns de Misoginia na Medicina

A misoginia pode se manifestar de várias maneiras no contexto médico, influenciando negativamente a experiência e a saúde das pacientes. Algumas das formas mais comuns incluem:

  1. Desvalorização dos Relatos de Dor e Sintomas Femininos
  • Estudos mostram que as mulheres são frequentemente vistas como exagerando ou dramatizando sua dor. Essa visão estereotipada leva ao subtratamento de sintomas dolorosos, especialmente em casos como dor pélvica crônica, endometriose e até mesmo infartos, onde a dor é um sintoma essencial.
  1. Diferenças de Diagnóstico e Tratamento entre Gêneros
  • Acredita-se que doenças como doenças cardíacas, autoimunes e transtornos psiquiátricos, como a ansiedade, manifestem-se de maneira diferente entre homens e mulheres. No entanto, a pesquisa sobre essas condições frequentemente usa o corpo masculino como padrão, resultando em diagnósticos equivocados e tratamentos inadequados para mulheres.
  1. Desconsideração dos Efeitos Colaterais em Medicamentos
  • Durante décadas, os estudos clínicos foram realizados quase exclusivamente com homens, o que resultou na criação de medicamentos e dosagens que desconsideram as diferenças fisiológicas e hormonais femininas. Isso levou a uma subestimação dos efeitos colaterais em mulheres, com consequências significativas para a saúde delas.
  1. Falta de Escuta e Autonomia das Pacientes
  • Muitos profissionais de saúde ainda tendem a interromper as pacientes com mais frequência ou a desconsiderar seus relatos e preferências. Em casos como o parto, por exemplo, as mulheres relatam episódios de violência obstétrica, em que suas decisões e desconfortos são ignorados, prejudicando a experiência e o desfecho.
  1. Estigmatização de Condições Exclusivas das Mulheres
  • Condições como a endometriose, SOP (Síndrome dos Ovários Policísticos) e transtornos menstruais são, muitas vezes, minimizadas ou ignoradas, mesmo quando afetam profundamente a qualidade de vida. Em muitos casos, a demora no diagnóstico ou a falta de opções de tratamento é resultado da falta de prioridade dada a essas condições.

Impactos na Saúde e Bem-Estar das Mulheres

A misoginia na medicina não afeta apenas a qualidade do atendimento; ela tem impactos profundos e duradouros na saúde física, emocional e psicológica das mulheres. Abaixo estão alguns dos principais efeitos:

  1. Atrasos no Diagnóstico e Subtratamento
  • A desvalorização dos sintomas relatados por mulheres leva a atrasos no diagnóstico, especialmente em doenças que afetam desproporcionalmente as mulheres, como doenças autoimunes, endometriose e cânceres ginecológicos. Esse atraso pode agravar a condição e reduzir as opções de tratamento.
  1. Maior Risco de Complicações e Morbidade
  • A falta de representatividade feminina em pesquisas médicas e o uso de padrões de diagnóstico baseados em homens aumenta o risco de diagnósticos equivocados, o que pode levar a complicações evitáveis e até à mortalidade. Um exemplo marcante é o infarto, cujos sintomas atípicos nas mulheres são, muitas vezes, confundidos com problemas menos graves.
  1. Desconfiança no Sistema de Saúde
  • A percepção de que suas queixas não são levadas a sério ou que seus problemas de saúde são ignorados gera um sentimento de desconfiança em relação aos profissionais de saúde e ao sistema como um todo. Muitas mulheres evitam buscar assistência médica até que sua condição se agrave, o que piora o prognóstico e a experiência de cuidado.
  1. Impacto Psicológico e Estresse
  • A desvalorização e o descaso com os problemas de saúde feminina geram frustração, estresse e até sintomas de ansiedade e depressão em muitas mulheres. Esse impacto psicológico afeta a qualidade de vida e compromete a capacidade das mulheres de cuidarem de si mesmas de forma proativa.

Avanços e Estratégias para Combater a Misoginia na Medicina

Felizmente, o aumento da conscientização sobre a misoginia na medicina tem levado a esforços significativos para tornar o atendimento mais inclusivo e adaptado às necessidades das mulheres. Algumas das iniciativas mais relevantes incluem:

  1. Educação e Treinamento de Profissionais
  • Incluir o viés de gênero e o impacto da misoginia nos currículos das faculdades de medicina é um passo importante para preparar novos profissionais a atender de forma mais equitativa. Programas de treinamento sobre escuta ativa e empatia também podem ajudar a melhorar o atendimento e fortalecer o vínculo médico-paciente.
  1. Pesquisa e Inclusão de Mulheres em Ensaios Clínicos
  • A representatividade feminina em pesquisas clínicas é essencial para desenvolver medicamentos e tratamentos que considerem as diferenças biológicas entre os gêneros. O financiamento de pesquisas específicas sobre saúde feminina e a inclusão de mulheres em ensaios clínicos são passos fundamentais para melhorar a segurança e a eficácia dos tratamentos para as mulheres.
  1. Protagonismo das Mulheres na Medicina e na Pesquisa
  • Aumentar a participação de mulheres em cargos de liderança e pesquisa dentro das instituições médicas e acadêmicas pode ajudar a promover políticas de saúde mais equitativas. Mulheres na liderança frequentemente desenvolvem políticas que abordam as desigualdades de gênero e que priorizam a saúde feminina.
  1. Protocolos de Atendimento Humanizado e Ético
  • Instituições de saúde podem implementar protocolos específicos para o atendimento humanizado e ético das mulheres, especialmente em áreas de alta sensibilidade, como a ginecologia e obstetrícia. Esses protocolos devem incluir a escuta ativa, o respeito pela autonomia das pacientes e a abordagem inclusiva de seus relatos.
  1. Campanhas de Sensibilização e Informação para as Pacientes
  • Informar as mulheres sobre seus direitos e incentivá-las a buscar uma segunda opinião em casos de negligência ou descaso pode empoderá-las. Campanhas de conscientização ajudam a reduzir o estigma e oferecem apoio para que as mulheres saibam reconhecer e exigir um atendimento adequado.

Combater a misoginia na medicina não é apenas uma questão de justiça social, mas de saúde pública. Proporcionar um atendimento que reconheça e valorize as especificidades femininas é essencial para a promoção da saúde e do bem-estar das mulheres.