Massas abdominais neoplásicas em pediatria: o que você precisa saber?

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As duas neoplasias abdominais mais comuns na infância são o neuroblastoma e o nefroblastoma, também conhecido como tumor de Wilms.

O neuroblastoma é um tumor que se origina nas células embrionárias do sistema nervoso periférico, cujo principal local de acometimento é o abdome, mais especificamente na glândula adrenal, mas também pode estar localizado nos gânglios retroperitoneais e mediastino posterior. Acomete com mais frequência lactentes e pré-escolares, com pico aos 2 anos de idade.

Em comparação com o nefroblastoma, o neuroblastoma costuma ter sintomas mais significativos. Geralmente o paciente apresenta massa abdominal que ultrapassa a linha média do abdome e com sintomas importantes ao diagnóstico, tais como perda ponderal/desnutrição, febre, irritabilidade e dor óssea. Pode apresentar-se com a síndrome de Horne, decorrente de compressão do gânglio estrelado, com presença de ptose, miose, enoftalmia e anidrose facial. Podem acontecer também sintomas relacionados à liberação de catecolaminas produzidas pelo tumor, tais como hipertensão arterial, sudorese, palpitações e rubor. Podem suceder citopenias relacionadas à invasão da medula óssea. O diagnóstico pode ser determinado pela aspiração e/ou a biópsia de medula, evitando cirurgia abdominal, caso o tumor seja considerado irressecável. Dentre os exames de imagem, a tomografia de abdome, em geral, mostra a massa com presença de calcificações grosseiras.

O tratamento é determinado por um conjunto de fatores tais como idade do paciente, estágio do tumor e fatores citogenéticos e moleculares. Envolve cirurgia, quimioterapia, radioterapia e modificadores de resposta biológica. O prognóstico varia de acordo com o acometimento do paciente. Em 75 % dos casos ocorre metástase, sendo o fígado o local mais acometido, mas pode atingir pulmão (bastante raro), sistema nervoso central, osso e medula óssea.

Já o tumor de Wilms, que é o tumor renal mais comum da infância, comumente é assintomático ou oligossintomático. Acomete crianças entre 2 a 5 anos de idade, com pico entre 3 e 4 anos. A apresentação clássica da doença é o achado de massa abdominal notada pelos familiares ou cuidadores ao acariciar ou dar banho nas crianças ou durante brincadeiras. As manifestações clínicas, além da massa palpável presente em 60 % dos casos, são: hipertensão arterial (25%), hematúria (15%), dor abdominal (8%), obstipação intestinal (4%), perda de peso (4%) e infecção do trato urinário (3%). No exame físico, a palpação do abdome deve ser feita de forma delicada, pois pode ocorrer rompimento do tumor, o que piora o prognóstico. Uma diferença clínica significativa é que, comparado com o neuroblastoma, a massa abdominal do nefroblastoma não costuma ultrapassar a linha média do abdome. Além disso, no geral, não estão presentes calcificações nos exames de imagem. A metástase é menos comum, sendo o pulmão o principal órgão acometido. O tratamento depende do estadiamento clínico e engloba cirurgia, quimioterapia e/ou radioterapia, porém o prognóstico é muito bom e muito melhor do que o neuroblastoma.