Embolia Amniótica: Abordagem Baseada em Evidências para uma Emergência Obstétrica Rara e Letal

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A embolia amniótica é uma complicação obstétrica rara, mas grave, associada a uma alta taxa de mortalidade materna e neonatal. Esta condição ocorre quando o líquido amniótico, células fetais ou outros materiais fetais entram na circulação materna, desencadeando uma resposta inflamatória e coagulopática sistêmica.

A incidência estimada de embolia amniótica é de aproximadamente 1 a 12 casos por 100.000 nascimentos. A mortalidade materna associada varia de 20% a 60%, dependendo da rapidez e eficácia do tratamento.

Fatores de risco

  • idade materna avançada
  • multiparidade
  • pré-eclâmpsia
  • cesariana
  • parto instrumental
  • placenta prévia
  • descolamento prematuro de placenta

 No entanto, a embolia amniótica pode ocorrer em gestantes sem fatores de risco conhecidos.

A fisiopatologia ainda não é completamente compreendida mas acredita-se que uma vez que o líquido amniótico ou outros componentes fetais entram na circulação materna, provoca uma reação imune exagerada, semelhante a uma resposta anafilática, levando à disfunção multissistêmica. 

  • Insuficiência respiratória aguda: Devido à vasoconstrição pulmonar e edema pulmonar, que podem evoluir para síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA).
  • Colapso cardiovascular: Hipotensão severa e choque cardiogênico são comuns, frequentemente associados a arritmias.
  • Coagulopatia: A disseminação intravascular de coágulos leva a uma coagulopatia de consumo, resultando em hemorragia maciça.

Diagnóstico:

O diagnóstico é clínico e muitas vezes feito por exclusão, já que não há um teste diagnóstico específico e definitivo. Os critérios diagnósticos incluem:

  1. Início abrupto de sintomas durante o trabalho de parto, parto ou nas primeiras 30 minutos pós-parto, caracterizado por dispneia, hipotensão ou parada cardíaca.
  2. Coagulopatia sem outra explicação, geralmente acompanhada de hemorragia uterina maciça.
  3. Ausência de outra causa mais provável para os sintomas, como embolia pulmonar trombótica ou reação anafilática a medicamentos.

Tratamento

O manejo da embolia amniótica é primariamente de suporte e envolve uma equipe multidisciplinar, incluindo obstetras, anestesiologistas, intensivistas e hematologistas. As principais abordagens incluem:

  • Suporte ventilatório: Para tratar a insuficiência respiratória e melhorar a oxigenação.
  • Suporte hemodinâmico: Com a administração de fluidos intravenosos, vasopressores e inotrópicos para manter a pressão arterial e a perfusão tecidual.
  • Tratamento da coagulopatia: Inclui reposição de componentes do sangue, como plasma fresco congelado, crioprecipitado e plaquetas, além de outros agentes hemostáticos, conforme necessário.
  • Intervenções obstétricas: Em casos de parada cardíaca, a realização de uma cesariana perimortem pode ser necessária para melhorar as chances de sobrevivência tanto da mãe quanto do bebê.

IMPORTANTE:

O reconhecimento imediato e intervenção agressiva são fundamentais para o desfecho maternofetal. O manejo multidisciplinar e o suporte intensivo permanecem como pilares do tratamento, enfatizando a importância de protocolos claros e bem estabelecidos nas unidades obstétricas.

Referências:

Knight, M., et al. (2017). "Amniotic fluid embolism incidence, risk factors and outcomes: a review and recommendations." BJOG: An International Journal of Obstetrics & Gynaecology, 124(1), 48-56. DOI: 10.1111/1471-0528.14099

Clark, S. L., et al. (2016). "Amniotic fluid embolism: analysis of the national registry." American Journal of Obstetrics and Gynecology, 215(2), 223.e1-223.e6. DOI: 10.1016/j.ajog.2016.04.013

Tuffnell, D. J., et al. (2019). "The management of amniotic fluid embolism: Current and emerging therapies." International Journal of Obstetric Anesthesia, 37, 19-27. DOI: 10.1016/j.ijoa.2018.09.001