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Embolia Amniótica: Abordagem Baseada em Evidências para uma Emergência Obstétrica Rara e Letal
Escrito por
Marina Apostólico
Publicado em
17/9/2024
A embolia amniótica é uma complicação obstétrica rara, mas grave, associada a uma alta taxa de mortalidade materna e neonatal. Esta condição ocorre quando o líquido amniótico, células fetais ou outros materiais fetais entram na circulação materna, desencadeando uma resposta inflamatória e coagulopática sistêmica.
A incidência estimada de embolia amniótica é de aproximadamente 1 a 12 casos por 100.000 nascimentos. A mortalidade materna associada varia de 20% a 60%, dependendo da rapidez e eficácia do tratamento.
Fatores de risco:
- idade materna avançada
- multiparidade
- pré-eclâmpsia
- cesariana
- parto instrumental
- placenta prévia
- descolamento prematuro de placenta
No entanto, a embolia amniótica pode ocorrer em gestantes sem fatores de risco conhecidos.
A fisiopatologia ainda não é completamente compreendida mas acredita-se que uma vez que o líquido amniótico ou outros componentes fetais entram na circulação materna, provoca uma reação imune exagerada, semelhante a uma resposta anafilática, levando à disfunção multissistêmica.
- Insuficiência respiratória aguda: Devido à vasoconstrição pulmonar e edema pulmonar, que podem evoluir para síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA).
- Colapso cardiovascular: Hipotensão severa e choque cardiogênico são comuns, frequentemente associados a arritmias.
- Coagulopatia: A disseminação intravascular de coágulos leva a uma coagulopatia de consumo, resultando em hemorragia maciça.
Diagnóstico:
O diagnóstico é clínico e muitas vezes feito por exclusão, já que não há um teste diagnóstico específico e definitivo. Os critérios diagnósticos incluem:
- Início abrupto de sintomas durante o trabalho de parto, parto ou nas primeiras 30 minutos pós-parto, caracterizado por dispneia, hipotensão ou parada cardíaca.
- Coagulopatia sem outra explicação, geralmente acompanhada de hemorragia uterina maciça.
- Ausência de outra causa mais provável para os sintomas, como embolia pulmonar trombótica ou reação anafilática a medicamentos.
Tratamento
O manejo da embolia amniótica é primariamente de suporte e envolve uma equipe multidisciplinar, incluindo obstetras, anestesiologistas, intensivistas e hematologistas. As principais abordagens incluem:
- Suporte ventilatório: Para tratar a insuficiência respiratória e melhorar a oxigenação.
- Suporte hemodinâmico: Com a administração de fluidos intravenosos, vasopressores e inotrópicos para manter a pressão arterial e a perfusão tecidual.
- Tratamento da coagulopatia: Inclui reposição de componentes do sangue, como plasma fresco congelado, crioprecipitado e plaquetas, além de outros agentes hemostáticos, conforme necessário.
- Intervenções obstétricas: Em casos de parada cardíaca, a realização de uma cesariana perimortem pode ser necessária para melhorar as chances de sobrevivência tanto da mãe quanto do bebê.
IMPORTANTE:
O reconhecimento imediato e intervenção agressiva são fundamentais para o desfecho maternofetal. O manejo multidisciplinar e o suporte intensivo permanecem como pilares do tratamento, enfatizando a importância de protocolos claros e bem estabelecidos nas unidades obstétricas.
Referências:
Knight, M., et al. (2017). "Amniotic fluid embolism incidence, risk factors and outcomes: a review and recommendations." BJOG: An International Journal of Obstetrics & Gynaecology, 124(1), 48-56. DOI: 10.1111/1471-0528.14099
Clark, S. L., et al. (2016). "Amniotic fluid embolism: analysis of the national registry." American Journal of Obstetrics and Gynecology, 215(2), 223.e1-223.e6. DOI: 10.1016/j.ajog.2016.04.013
Tuffnell, D. J., et al. (2019). "The management of amniotic fluid embolism: Current and emerging therapies." International Journal of Obstetric Anesthesia, 37, 19-27. DOI: 10.1016/j.ijoa.2018.09.001