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Cuidados pós-operatórios em cirurgia Ginecológica
Escrito por
Jader Burtet
Publicado em
31/5/2023
A cirurgia ginecológica é definida como qualquer cirurgia no sistema reprodutor feminino, incluindo vulva, vagina, cérvice uterina, trompas, útero e ovário. Os cuidados pós-operatórios são de suma importância para evitar complicações e ter uma rápida recuperação cirúrgica. Sabe-se que as orientações pós-operatórias divergem de cirurgião para cirurgião, porém o cuidado e orientação são fundamentais para um desfecho favorável
Nas cirurgias abdominais realizadas por laparotomia, os pontos – quando realizados por material inabsorvível (exemplo: nylon) – poderão ser retirados em 7 a 14 dias após o procedimento realizado. Geralmente a sutura vaginal é realizada por fio absorvível, sendo a remoção desnecessária.
Os curativos realizados na incisão da laparotomia poderão permanecer por um período de 24-48 horas, devendo o cirurgião instruir a remoção ou realizá-la ele mesmo. Curativos como steri-strips podem ser mantidos por até 7 dias, e para a sua retirada pode-se proceder com uso de compressa morna ou no banho, pois facilita o processo. Esse material pode diminuir a resistência da ferida operatória à tensão, melhorando o resultado estético.
Caso haja sobra da cola da pele, não é recomendado esfregar, pois geralmente sai após 10 dias. Caso permaneça após esse período, o uso de pomada antibiótica, ou mesmo vaselina, podem ajudar a removê-la.
A higiene das feridas operatórias deve ser realizada durante o banho e não há necessidade de sabão, apenas água limpa. Caso opte pelo uso de sabão, dar preferência ao sabão neutro. Evitar esfregar a área incisada para evitar deiscência.
A cicatrização é um processo lento e pode demorar até um ano para atingir a aparência final. Alterações em sensibilidade, como por exemplo hipoestesia ou sensibilidade aumentada, podem ocorrer, mas a orientação à paciente é fundamental sobre o caráter possivelmente transitório dessas alterações. Atentar que não é indicado o uso de cremes sobre a incisão de forma rotineira.
Em cirurgias minimamente invasivas, como a robótica ou a laparoscopia, as incisões, mesmo que menores, necessitam dos mesmos cuidados das incisões da laparotomia.
Em cirurgias vaginais a recuperação e absorção da sutura ocorrem geralmente de 6 a 8 semanas e nesse período pode ocorrer sangramento leve, leucorreia rósea, marrom e até amarela, à medida em que os pontos são reabsorvidos. Pode haver pedaços pequenos de fio na roupa íntima ou no papel higiênico.
Deve-se orientar que sentir-se cansada após a cirurgia é uma queixa comum, visto que o procedimento cirúrgico constitui trauma e a própria resposta metabólica ao trauma pode levar à fadiga. O repouso é fundamental, porém indica-se caminhadas várias vezes ao dia iniciando já no dia do procedimento, pois tal conduta previne complicações como trombose venosa profunda (TVP), dor causada pelo acúmulo de gases, causando distensão, e pneumonia. As caminhadas deverão aumentar de intensidade conforme a tolerância individual de cada paciente. O manejo da dor, para tal orientação, é fundamental.
O repouso relativo preconizado, como o repouso de levantar objetos pesados, é devido ao risco de tensão nos tecidos em cicatrização. A recomendação é evitar levantar objetos com mais de 5,9 kg do chão e que, caso haja algum objeto que não consiga segurar em uma mão, pedir ajuda. Tais cuidados são recomendados, geralmente, por seis semanas após grandes cirurgias abdominais (histerectomia) e por duas semanas após cirurgia minimamente invasiva. Caso tenha realizado um procedimento como histeroscopia, não se faz necessário tal repouso.
Orienta-se também à paciente permanecer sem dirigir até que consiga realizar atividades cotidianas sem o uso de analgésicos. Viagens longas, na maioria das vezes, deve ser evitada por 15 dias após o procedimento, devido risco de trombose.
A abstinência sexual deve ser individualizada quanto ao procedimento realizado, podendo variar de 2 a 8 semanas, a depender do tipo de cirurgia realizada e via cirúrgica.
O retorno ao trabalho deve ser gradual, respeitando o processo de cicatrização, bem como avaliando, de forma individual, o trabalho ao qual a paciente é submetida.
A alimentação pós-operatória deve ser mantida da forma habitual. É comum a paciente apresentar hiporexia leve transitória nos primeiros dias. A recomendação é de comer em pequenas porções, mas de forma frequente, até para facilitar a digestão. Além disso, alimentos mais pastosos podem evitar a distensão abdominal, o que pode ocasionar menos desconforto no pós-operatório. Atentar bem ao valor nutricional das porções e à hidratação, ambos fundamentais para uma boa evolução.
A constipação é extremamente comum e habitualmente transitória e ocorre devido a diminuição da peristalse intestinal, comum no pós-operatório. Caso opte por manejo farmacológico, pode-se empregar laxativos, como o hidróxido de magnésio, ou suplementos de fibra, como psyllium ou metilcelulose. Caso não haja efeito em 24 a 48 horas, pode-se indicar o uso de laxante estimulante que contenha Senna ou bisacodil. Caso não haja evacuação nas próximas 24 horas, o enema pode ser aventado e discutido com a paciente. Uma vez em que a função intestinal for restabelecida, pode-se optar pelo uso de laxativos não estimulantes por quanto tempo for necessário para maior conforto à paciente.
Em cirurgias vaginais pode ocorrer sensação de ardência no canal vaginal, disúria e polaciúria. Tais sintomas são ocasionalmente transitórios. Os sinais de alerta para o sistema urinário são quando a disúria é forte e persistente, urgência associada à polaciúria e sensação de micção incompleta, febre acima de 38 °C aferida e hematúria. Em tais casos, é necessário investigação de infecção.
O cuidado pós-operatório é de suma importância para um desfecho satisfatório e conforto da paciente. O conhecimento das queixas habituais são fundamentais para diferenciar o pós-operatório fisiológico do patológico, bem como para reconhecer precocemente complicações cirúrgicas.
Referências
- CLAYTON, Mary; VEROW, Peter. Advice given to patients about return to work and driving following surgery. Occup Med (Lond), v. 57, n. 7, p. 488-91, out 2007. DOI: 10.1093/occmed/kqm063. PMID: 17906266.
- MOVAFEGH, A et al. Naloxone infusion and post-hysterectomy morphine consumption: a double-blind, placebo-controlled study. Acta Anaesthesiol Scand. , v. 56, n. 10, p. 1241-9, nov 2012. DOI: 10.1111/j.1399-6576.2012.02764.x. PMID: 22946762.
- Disponível em: https://medlineplus.gov/healthtopics.html. Acesso em: 22 nov 2022.