Compartilhe
Como Orientar Sua Paciente Sobre Higiene Íntima Feminina de Forma Clara e Baseada em Evidências

Escrito por
Fabiano Serra
Publicado em
7/5/2025

A orientação sobre higiene íntima é uma parte essencial do cuidado ginecológico preventivo. Muitas mulheres mantêm práticas inadequadas por desinformação, influência de publicidade ou crenças culturais — o que pode levar a disbiose vaginal, irritações, alergias ou infecções recorrentes. Cabe ao profissional de saúde fornecer informações simples, diretas e seguras, baseadas em evidências, respeitando a individualidade da paciente.
1. Explique que a vulva e a vagina não são a mesma coisa
Um erro comum é considerar a vagina como parte externa da genitália. Esclareça:
- Vulva: região externa (grandes e pequenos lábios, clitóris, entrada da vagina).
- Vagina: canal interno, que é autolimpante e não deve ser lavada por dentro.
Evitar duchas vaginais é fundamental. Elas removem a flora natural, alteram o pH e aumentam o risco de infecções, como candidíase e vaginose bacteriana.
2. Oriente a higiene da vulva com água e, se necessário, sabonete adequado
- A lavagem da vulva deve ser feita uma vez ao dia, ou mais se houver transpiração excessiva ou após atividade física.
- Sabonetes suaves, com pH nais neutro, são preferíveis. Sabonetes íntimos, na maioria das vezes, não são os mais indicados.
- Evitar sabonetes perfumados, bactericidas e produtos abrasivos.
- Lavar apenas a região externa — nunca o canal vaginal.
- Enxaguar bem e secar com toalha limpa e macia, sem fricção excessiva.
3. Oriente sobre roupas íntimas e vestuário
- Preferir calcinhas de algodão, que são mais respiráveis.
- Evitar peças apertadas por longos períodos (como jeans justo ou legging por muitas horas).
- Dormir sem calcinha pode ser benéfico para melhorar a ventilação da região genital.
4. Alerta sobre absorventes e produtos íntimos
- Absorventes externos devem ser trocados a cada 4 horas, mesmo que o fluxo seja leve.
- Absorventes internos também devem ser usados com cautela e trocados a cada 4–6 horas.
- Evitar protetores diários contínuos, pois abafam a vulva e favorecem infecções.
- Produtos como desodorantes íntimos, lenços umedecidos perfumados e sprays devem ser desestimulados, pois causam irritação e desequilíbrio da microbiota local.
5. Relações sexuais e higiene
- Após relações sexuais, a lavagem com água é suficiente.
- O uso de sabonete não é obrigatório nesse momento.
- Incentive a paciente a urinar após a relação para reduzir o risco de infecção urinária.
6. Evite julgamentos e personalize a orientação
Algumas pacientes têm hábitos que mantêm desde a adolescência ou seguem crenças familiares. Explique com empatia, sem impor culpa. Adapte suas orientações ao contexto sociocultural e às queixas específicas da paciente (como candidíase recorrente, dispareunia ou prurido).
Higiene íntima adequada é simples, discreta e respeita a fisiologia vaginal. O excesso de limpeza, o uso de produtos desnecessários ou práticas equivocadas são, muitas vezes, mais prejudiciais do que a ausência de cuidados.
Ensinar higiene íntima é uma oportunidade de educação em saúde. Ao desmistificar crenças e orientar com clareza, o médico ginecologista promove autonomia, bem-estar e prevenção. Mais do que um detalhe, a forma como essa conversa é conduzida pode fortalecer o vínculo médico-paciente e evitar muitas consultas futuras por queixas que seriam evitáveis com simples ajustes na rotina.