Como Orientar Sua Paciente Sobre Higiene Íntima Feminina de Forma Clara e Baseada em Evidências

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A orientação sobre higiene íntima é uma parte essencial do cuidado ginecológico preventivo. Muitas mulheres mantêm práticas inadequadas por desinformação, influência de publicidade ou crenças culturais — o que pode levar a disbiose vaginal, irritações, alergias ou infecções recorrentes. Cabe ao profissional de saúde fornecer informações simples, diretas e seguras, baseadas em evidências, respeitando a individualidade da paciente.

1. Explique que a vulva e a vagina não são a mesma coisa

Um erro comum é considerar a vagina como parte externa da genitália. Esclareça:

  • Vulva: região externa (grandes e pequenos lábios, clitóris, entrada da vagina).
  • Vagina: canal interno, que é autolimpante e não deve ser lavada por dentro.

Evitar duchas vaginais é fundamental. Elas removem a flora natural, alteram o pH e aumentam o risco de infecções, como candidíase e vaginose bacteriana.

2. Oriente a higiene da vulva com água e, se necessário, sabonete adequado

  • A lavagem da vulva deve ser feita uma vez ao dia, ou mais se houver transpiração excessiva ou após atividade física.
  • Sabonetes suaves, com pH nais neutro, são preferíveis. Sabonetes íntimos, na maioria das vezes, não são os mais indicados.
  • Evitar sabonetes perfumados, bactericidas e produtos abrasivos.
  • Lavar apenas a região externa — nunca o canal vaginal.
  • Enxaguar bem e secar com toalha limpa e macia, sem fricção excessiva.

3. Oriente sobre roupas íntimas e vestuário

  • Preferir calcinhas de algodão, que são mais respiráveis.
  • Evitar peças apertadas por longos períodos (como jeans justo ou legging por muitas horas).
  • Dormir sem calcinha pode ser benéfico para melhorar a ventilação da região genital.

4. Alerta sobre absorventes e produtos íntimos

  • Absorventes externos devem ser trocados a cada 4 horas, mesmo que o fluxo seja leve.
  • Absorventes internos também devem ser usados com cautela e trocados a cada 4–6 horas.
  • Evitar protetores diários contínuos, pois abafam a vulva e favorecem infecções.
  • Produtos como desodorantes íntimos, lenços umedecidos perfumados e sprays devem ser desestimulados, pois causam irritação e desequilíbrio da microbiota local.

5. Relações sexuais e higiene

  • Após relações sexuais, a lavagem com água é suficiente.
  • O uso de sabonete não é obrigatório nesse momento.
  • Incentive a paciente a urinar após a relação para reduzir o risco de infecção urinária.

6. Evite julgamentos e personalize a orientação

Algumas pacientes têm hábitos que mantêm desde a adolescência ou seguem crenças familiares. Explique com empatia, sem impor culpa. Adapte suas orientações ao contexto sociocultural e às queixas específicas da paciente (como candidíase recorrente, dispareunia ou prurido).

Higiene íntima adequada é simples, discreta e respeita a fisiologia vaginal. O excesso de limpeza, o uso de produtos desnecessários ou práticas equivocadas são, muitas vezes, mais prejudiciais do que a ausência de cuidados.

Ensinar higiene íntima é uma oportunidade de educação em saúde. Ao desmistificar crenças e orientar com clareza, o médico ginecologista promove autonomia, bem-estar e prevenção. Mais do que um detalhe, a forma como essa conversa é conduzida pode fortalecer o vínculo médico-paciente e evitar muitas consultas futuras por queixas que seriam evitáveis com simples ajustes na rotina.