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Como interpretar os resultados de toxoplasmose na gestação?
Escrito por
Fabiano Serra
Publicado em
5/4/2023
A sorologia de toxoplasmose na gestante gera certa confusão para muitas equipes que realizam assistência pré-natal. A interpretação dos resultados das imunoglobulinas M e G (IgM e IgG, respectivamente) é primordial para a definição de conduta nesses casos.
Após a infecção, a produção de IgM se inicia em uma a duas semanas, com pico de produção em 1 a 2 meses e pode manter-se positiva em títulos baixos por muitos anos. A especificidade do exame pode não ser tão boa, de forma que resultados falso positivos são possíveis. O início da produção de IgG ocorre um pouco mais tardiamente, em geral duas semanas após a positivação da IgM, e é importante para a definição dos casos.
Pacientes que possuem IgM e IgG negativos são consideradas susceptíveis à infecção e devem receber orientações específicas, como alimentos e formas de consumo (tema abordado em outra postagem).
Aquelas que iniciam o pré-natal com IgG positivo e IgM negativo são consideradas imunes e, portanto, não têm risco de “reinfecção”.
O grande dilema é quando estamos diante de pacientes com IgM positivo. Nesse cenário, temos duas possibilidades: que a IgM esteja realmente positiva ou que seja um falso positivo. Para diferenciá-las, temos que olhar também para IgG, que nos ajuda na definição de condutas. Até a confirmação, deve-se considerar como infecção aguda e o tratamento deverá ser realizado.
Pacientes com IgM positivo e IgG positivo devem iniciar tratamento. Devem ser submetidas, também, ao teste de avidez de IgG, principalmente para os casos com idade gestacional ≤ 16 semanas. O resultado é expresso em percentual de ligação do anticorpos ao antígeno do Toxoplasma. Os valores percentuais para definir se a avidez é alta, baixa ou intermediária dependem do kit laboratorial utilizado, não existindo, assim, um valor padrão. Se o teste de avidez for realizado até a 16ª semana e o resultado for alta avidez (ligação forte do antígeno com anticorpo), podemos excluir infecção aguda na gestação. Após 16 semanas de gestação, o teste de avidez não consegue determinar o tempo da infecção, mas se o resultado vier como baixa avidez, trata-se de infecção adquirida na gestação porque significa que a infecção pode ter ocorrido há menos de 16 semanas. Se vem como avidez alta ou intermediária, ainda que possa ter ocorrido antes da gestação, não se assume essa possibilidade e a gestante será conduzida como infecção aguda da mesma maneira. A conduta específica está descrita em outra postagem.
Se o resultado de IgM for positivo e o de IgG negativo, há possibilidade de curso agudo da infecção ou de falso positivo. O tratamento deve ser iniciado imediatamente e, para confirmação, solicita-se nova sorologia em 14 a 21 dias. Se houver manutenção de IgG como não reagente, trata-se de falso positivo para IgM. O tratamento é suspenso, a gestante será reclassificada como suscetível e o pré-natal segue no risco habitual (conduz-se como IgM e IgG negativos). Se IgG vem positiva, confirma-se soroconversão (infecção aguda) e o tratamento deverá seguir as diretrizes para a idade gestacional.
Os cuidados relacionados a cada um desses cenários são temas de outras postagens do site.
Referência
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Coordenação-Geral de Ciclos da Vida. Coordenação de Saúde das Mulheres. Nota técnica n. 14/2020 - COSMU/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS. Brasília: Ministério da Saúde, 2020.