Como Diferenciar os Cistos Ovarianos Funcionais dos Tumores Neoplásicos Benignos?

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Os cistos ovarianos são achados comuns na prática ginecológica e, muitas vezes, são motivo de ansiedade para as pacientes e desafio diagnóstico para os médicos. A maioria dos cistos em mulheres em idade reprodutiva é benigna, e muitos são funcionais, ou seja, relacionados ao ciclo ovulatório normal. Outros, no entanto, representam tumores benignos, com potenciais implicações clínicas e cirúrgicas.

O que são cistos funcionais?

Os cistos funcionais são estruturas benignas que se formam como parte do ciclo ovariano normal. Eles não são tumores verdadeiros, mas sim alterações fisiológicas temporárias, geralmente autolimitadas.

Os principais tipos incluem:

1. Cisto folicular

  • Resulta da falha na ovulação de um folículo dominante.
  • É o tipo mais comum de cisto funcional.
  • Aparece como uma estrutura anecoica, fina, com conteúdo líquido claro, geralmente < 8 cm.
  • Regride espontaneamente em até 8 semanas.

2. Cisto de corpo lúteo

  • Surge após a ovulação, quando o corpo lúteo se enche de líquido ou sangue.
  • Pode ter conteúdo mais denso (heterogêneo) no ultrassom.
  • Também tende à regressão espontânea, mas pode romper ou causar dor.

3. Cisto teca-luteínico

  • Associado à hiperestimulação ovariana, geralmente por níveis elevados de gonadotrofinas (como em gestações molares ou uso de indutores da ovulação).
  • Geralmente bilateral e volumoso.
  • Regride após correção do estímulo hormonal.

O que são tumores benignos do ovário?

Diferentemente dos cistos funcionais, os tumores benignos são crescimentos celulares que, apesar de não invadirem tecidos adjacentes ou metastatizarem, não regridem espontaneamente. Podem surgir de qualquer componente do ovário: epitélio, células germinativas ou estroma.

Os mais comuns incluem:

1. Teratoma cístico maduro (cisto dermoide)

  • Tumor de células germinativas, composto por tecidos dos três folhetos embrionários.
  • Pode conter gordura, cabelo, dentes ou cartilagem.
  • Frequente em mulheres jovens.
  • Risco de torção de 3,5%.
  • O tratamento é cirúrgico, geralmente por cistectomia.

2. Cistoadenoma seroso

  • Tumor epitelial com conteúdo seroso, claro.
  • Pode ser unilateral ou bilateral.
  • Paredes finas, mas pode ter septações finas.

3. Cistoadenoma mucinoso

  • Conteúdo gelatinoso e espesso (mucina).
  • Pode atingir grandes volumes (50cm).

4. Fibroma ovariano

  • Tumor sólido do estroma ovariano.
  • Pode estar associado à síndrome de Meigs (ascite e derrame pleural).
  • Diagnóstico diferencial com massas malignas sólidas.

Como diferenciar cistos funcionais de tumores benignos?

A história clínica, o exame físico e, sobretudo, a ultrassonografia transvaginal são fundamentais para essa distinção.

Quando se preocupar?

Algumas características indicam a necessidade de investigação complementar ou intervenção cirúrgica:

  • Cisto > 8 cm persistente por mais de 3 meses.
  • Presença de septações espessas, vegetações ou conteúdo sólido.
  • Dor abdominal intensa ou sinais de torção.
  • Cistos em mulheres pós-menopáusicas.
  • Elevação de marcadores tumorais (ex: CA-125, AFP, β-HCG) em determinados contextos.

Conduta e acompanhamento

  • Cistos funcionais simples (< 5 cm): conduta expectante com ultrassonografia seriada em 6-8 semanas.
  • Cistos > 8 cm, complexos ou persistentes: avaliação ginecológica especializada e, se indicado, cirurgia.
  • Tumores benignos em mulheres jovens com desejo reprodutivo: preferir cistectomia com preservação do ovário.
  • Pós-menopausa: maior atenção a cistos persistentes ou complexos, pelo risco (ainda que pequeno) de malignidade.

Diferenciar um cisto funcional de um tumor benigno do ovário é essencial para evitar condutas excessivas, sem negligenciar situações que requerem intervenção. O raciocínio clínico deve sempre integrar história, exame físico, achados de imagem e contexto hormonal.

Na dúvida, o acompanhamento criterioso e o encaminhamento a um ginecologista são passos fundamentais para o cuidado adequado e seguro da paciente.