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A avaliação da sexualidade feminina deve levar em conta aspectos biológicos – em que há uma resposta fisiológica adequada ou funcional –, aspectos socioculturais – um conceito dinâmico – e aspectos psicológicos – em que é de relevância a satisfação e o bem-estar. Esses fatores estão interligados podendo ser de suma importância em diferentes situações da vida.
Ao abordar esse tema, deve ser levado em conta as diferentes etapas da vida da mulher, bem como tabus, preconceitos e mitos. Assim, o profissional de saúde deve conduzir o tema com respeito, livre de preconceitos e de maneira positiva, pois a saúde sexual integra aspectos emocionais, físicos, intelectuais e somáticos da vida de uma mulher.
Para isso, deve-se ter conhecimento do ciclo da resposta sexual. Em 1966, Masters e Johnson descreveram um modelo linear de resposta sexual em que há a excitação – ímpeto de sensação erótica em que no homem é observada com ereção e na mulher, lubrificação com sensação de prazer –, o platô – excitação intensa associada à atividade vasocongestiva –, o orgasmo – auge do prazer, que consiste em múltiplas contrações genitais – e a resolução – fase final do ciclo.
Em 1974, houve novos estudos liderados por Helen Kaplan em que se acrescentou a esse ciclo, previamente descrito, a fase de desejo. O desejo é caracterizado pela sensação de bem-estar relacionada ao sexo e, dessa forma, precede a excitação e, por conseguinte, o platô, o orgasmo (não necessariamente presente em todas as respostas sexuais) e a resolução. Sabe-se que o desejo é, muitas vezes, a principal queixa, pois há diversas intensidades entre os parceiros. Mas, é de suma relevância entender que o desejo pode ser tanto espontâneo quanto responsivo.
Já em 2001, o modelo circular de resposta sexual criado por Basson mostrou que a resposta sexual feminina possui necessidade de intimidade emocional para que haja uma saída de um estado considerado neutro e passe a ser receptiva a estímulos sexuais. Ao sair desse estado neutro, a excitação é desencadeada associada à satisfação emocional e física, não tendo o orgasmo como definidor de tal satisfação. Além disso, essa satisfação é subjetiva e pode não exigir a obtenção de todas as fases do ciclo sexual.
Com a motivação sexual e o início da fase do desejo, há uma resposta de dopamina e prolactina. A dopamina propaga o desejo, causando uma busca pelo prazer, associada à vasodilatação periférica. A prolactina possui um efeito inibitório no desejo ao inibir a testosterona. Há também vias excitatórias que são compostas por noradrenalina, melanocortinas e ocitocina. Já as inibitórias são compostas por serotonina, opioides e endocanabinoides.
Ao entrar na fase de excitação, há uma ativação do sistema parassimpático com liberação de acetilcolina e óxido nítrico. A acetilcolina possui função de vasocongestão genital ao inibir noradrenalina via receptores muscarínicos. Como consequência, há aumento do útero, clitóris, alteração da coloração dos lábios internos, além de alongamento do canal vaginal e lubrificação. As modificações ocorrem não somente na região genital, mas também há hiperventilação pulmonar, taquicardia, espasmos carpopedal, aumento do tônus muscular de pescoço, retoabdominais e glúteo.
A testosterona promove um aumento do desejo por estimular dopamina e sensação de bem-estar. O estrogênio deixa a mulher receptível ao impulso sexual e a progesterona reduz o impulso ao diminuir testosterona e, consequentemente, dopamina. O estrogênio também tem por função, durante a excitação, a vasodilatação aumentando fluxo sanguíneo vaginal e clitóris além de lubrificação vaginal. Melhora também o epitélio vulvovaginal e musculatura lisa dessa região.
Ao atingir o orgasmo, há contrações musculares em todo o corpo via sistema simpático com liberação de neurotransmissores inibitórios da resposta como a serotonina. Ao liberar esse neurotransmissor, há uma inibição de noradrenalina e dopamina resultando em sonolência. As endorfinas liberadas são responsáveis pela sensação de relaxamento. Nessa fase também há liberação de ocitocina, que promove contrações uterinas, estimula o aumento do fluxo sanguíneo e, após, uma sensação de bem-estar.
REFERÊNCIAS:
AMERICAN COLLEGE OF OBSTETRICIANS AND GYNECOLOGISTS' COMMITTEE ON PRACTICE BULLETINS - Gynecology. Female Sexual Dysfunction: ACOG Practice Bulletin Clinical Management Guidelines for Obstetrician-Gynecologists, Number 213. Obstetrics and Gynecology, v. 134, n. 1, 2019, p. e1-e18. Disponível em: https://journals.lww.com/greenjournal/abstract/2019/07000/female_sexual_dysfunction__acog_practice_bulletin.45.aspx. Acesse em: 31 ago. 2023.
FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA. Comissão Nacional Especializada em Sexologia. Anamnese em sexologia e os critérios diagnósticos das disfunções sexuais. Protocolo FEBRASGO, n. 60. São Paulo, 2021.
PASSOS, Eduardo et al. (org.) Rotinas em Ginecologia. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2023.