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Atenção para os principais diagnósticos diferenciais de constipação no lactente
Escrito por
Lygia Lauand
Publicado em
21/3/2023
Apesar de ser encontrada em qualquer idade, a prevalência de constipação no lactente é menor, especialmente naqueles em aleitamento materno exclusivo. Nessa faixa etária, principalmente se a constipação se manifesta no primeiro mês de vida, deve-se investigar doença de Hirschsprung e alergia à proteína do leite de vaca, especialmente se a constipação teve início após a introdução de fórmulas infantis.
Um diagnóstico diferencial importante de constipação no lactente é a disquesia do lactente, um distúrbio funcional onde o paciente tem uma incoordenação entre a contração da musculatura abdominal e o relaxamento da musculatura do assoalho pélvico antes da evacuação. É comum observar nesses lactentes um esforço intenso, enrubescimento da face, choro e desconforto seguido ou não da eliminação de fezes. Quando evacuam, as fezes são macias, nunca endurecidas. Nos quadros de disquesia não há necessidade de nenhuma medida terapêutica como uso de supositórios ou laxantes. É fundamental esclarecer aos pais que se trata de um distúrbio funcional de incoordenação, e que até os 9 meses o bebê vai adquirir a coordenação e vai melhorar.
Outra situação que precisa ser diferenciada no lactente em aleitamento materno exclusivo é a pseudoconstipação. Sabemos que o recém-nascido saudável em aleitamento materno exclusivo deve evacuar diariamente após a maioria das mamadas. Caso comece a apresentar grandes intervalos entre as evacuações, o pediatra deve inicialmente observar se a ingesta é suficiente, com ganho de peso adequado e diurese normal. Depois do primeiro mês de vida, cerca de 5% dos bebês saudáveis em aleitamento materno exclusivo apresentam aumento do intervalo entre as evacuações, por 3 dias ou mais, mas quando eliminam as fezes elas são pastosas, normais, sem dor ou desconforto. Trata-se da pseudoconstipação do lactente, uma variação normal do ritmo intestinal dos bebês amamentados. Isso não traz nenhum impacto na saúde do bebê, mas pode acabar gerando uma certa ansiedade nos pais. Não há necessidade de nenhum tratamento para a pseudoconstipação, e os pais devem ser orientados de sua benignidade.
Além, disso, outros diagnósticos diferenciais da constipação funcional na Pediatria devem ser pesquisados se na história ou exame físico houver algum sinal de alarme: doença celíaca, hipotireoidismo, doença da paratireoide, hipercalcemia, hipocalemia, diabetes mellitus, uso de medicamentos (opioides, antidepressivos, quimioterapia), intoxicação por vitamina D, fibrose cística, acalasia anal, malformações anatômicas do ânus, tumores pélvicos, anormalidades da musculatura abominal (prune belly, síndrom de Down) e pseudobstrução (alteração do sistema nervoso e do muscular entérico).