Anticoncepção em Pacientes com Trombofilia: Como Equilibrar Segurança e Eficácia?

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A anticoncepção em pacientes com trombofilia é um dos temas mais controversos na prática ginecológica e obstétrica. Embora as diretrizes ofereçam orientações gerais, o manejo prático frequentemente envolve dilemas clínicos complexos, especialmente quando fatores adicionais como histórico de eventos tromboembólicos ou predisposição genética estão envolvidos.

O Desafio da Contracepção Hormonal em Pacientes com Risco Tromboembólico

Estudos demonstram que o uso de anticoncepcionais orais combinados (ACO) está associado a um aumento no risco de tromboembolismo venoso (TEV), particularmente em pacientes com trombofilias hereditárias ou adquiridas. Os estrogênios, especificamente, desempenham um papel importante na amplificação desse risco, o que coloca os especialistas diante de uma difícil escolha: como prover anticoncepção eficaz sem comprometer a segurança?

Estratégias Baseadas em Evidências:

• Anticoncepcionais Combinados (ACO): Para pacientes com trombofilia conhecida, especialmente aquelas com história pessoal ou familiar de TEV, os ACO contendo etinilestradiol são contraindicados. Os estudos mais recentes confirmam que mesmo doses mais baixas de estrogênio continuam a representar risco aumentado. Portanto, essa opção deve ser evitada.

• Progestágenos Isolados: Os anticoncepcionais contendo apenas progestágenos, sejam eles via oral, injetável ou implante subdérmico, são geralmente considerados seguros para essa população. No entanto, ainda é necessário cautela em casos de trombofilias de alto risco, onde algumas evidências sugerem que até mesmo progestágenos isolados podem ter algum impacto no risco trombótico, especialmente quando administrados por via sistêmica.

• DIU de Levonorgestrel: O DIU hormonal é uma alternativa recomendada, já que sua ação é predominantemente local e não parece aumentar o risco de TEV. Estudos longitudinais mostram que esta é uma das opções mais seguras para mulheres com trombofilia e alto risco tromboembólico.

• DIU de cobre: O DIU não- hormonal é uma alternativa recomendada, já que sua ação não depende de hormônios. É o método mais seguro para estas pacientes.

 

O Papel da Profilaxia Antitrombótica

Para algumas pacientes, a administração de anticoagulantes profiláticos pode ser considerada durante o uso de métodos hormonais, especialmente em casos onde há forte indicação de contracepção hormonal (ex. endometriose grave controlada por ACO). No entanto, essa abordagem é controversa e não amplamente recomendada pela maioria das diretrizes devido ao aumento potencial de riscos hemorrágicos.

Em síntese, a escolha do método contraceptivo em pacientes com trombofilia é altamente individualizada e deve ser guiada por uma análise detalhada do risco trombótico versus a necessidade de contracepção. O acompanhamento contínuo e a reavaliação periódica dessas pacientes são fundamentais, especialmente em contextos de mudanças fisiológicas (ex. gravidez, pós-parto, cirurgia).