Alterações fisiológicas na gestação e o impacto da atividade física: O que o Médico Precisa Saber

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Durante a gestação, o corpo materno passa por intensas adaptações anatômicas e fisiológicas que influenciam diretamente a resposta à atividade física. Conhecer essas modificações é essencial para orientar adequadamente o exercício durante esse período.

1. Alterações Anatômicas e Fisiológicas na Gestação

Mudanças musculoesqueléticas:
O aumento de peso e o deslocamento do centro de gravidade promovem uma hiperlordose lombar progressiva. Isso eleva o estresse sobre a coluna e articulações, principalmente em exercícios de impacto e força, favorecendo dores lombares — que acometem até 60% das gestantes.

Sistema respiratório:
A ventilação aumenta, gerando alcalose respiratória, redução do volume residual e reserva expiratório, o que limita a capacidade para atividades aeróbicas e anaeróbicas intensas, especialmente em mulheres sedentárias, com sobrepeso ou obesidade.

Hemodinâmica:
Há aumento do volume plasmático, débito cardíaco e frequência cardíaca, além de redução da resistência vascular. Após 20 semanas, a posição supina pode causar hipotensão por compressão da veia cava, exigindo cautela em certas posturas durante o exercício.

Regulação térmica:
Gestantes devem manter-se bem hidratadas e evitar ambientes quentes, especialmente no primeiro trimestre, quando o calor excessivo pode estar associado a defeitos do tubo neural. Apesar disso, o exercício em si não costuma elevar a temperatura corporal a níveis preocupantes.

2. Benefícios do Exercício Físico na Gestação

Ganho ponderal adequado:
A prática regular reduz o risco de ganho excessivo de peso — fator associado a desfechos neonatais adversos, como hipoglicemia, macrossomia e parto cesáreo. Metanálises demonstram que gestantes ativas ganham, em média, 0,9 kg a menos do que as sedentárias.

Prevenção de dor lombar:
Mulheres com melhor condicionamento relatam menor incidência de dor lombar e desconfortos musculoesqueléticos, contribuindo para melhor qualidade de vida.

Redução do risco de diabetes gestacional:
A atividade física está associada à diminuição da incidência de diabetes gestacional, com efeito ainda mais significativo em mulheres com sobrepeso ou obesidade.

Doença hipertensiva da gestação:
Diversos estudos demonstram que a prática de exercícios reduz a incidência de hipertensão gestacional, inclusive em populações de risco. No entanto, pacientes com controle pressórico inadequado devem ter acompanhamento rigoroso.

Via de parto:
A atividade física está associada à menor taxa de cesáreas, segundo evidências de metanálises.

Saúde mental e prevenção de depressão pós-parto:
O exercício durante a gestação e puerpério está vinculado a menores taxas de depressão pós-parto, uma preocupação crescente diante das estatísticas de mortalidade materna por causas psiquiátricas.

Prevenção do parto prematuro:
Há evidências de que a atividade física moderada, especialmente em gestantes com sobrepeso ou obesidade, reduz a incidência de parto pré-termo. Resultados promissores também foram observados em subgrupos de alto risco, embora ainda sem significância estatística robusta.

Forma

Conclusão:
A prática de atividade física, quando bem orientada e ajustada às particularidades gestacionais, é segura e benéfica. Cabe ao médico reconhecer as alterações fisiológicas da gravidez e personalizar as orientações conforme o perfil clínico da paciente.

Campos MDSB, Buglia S, Colombo CSSS, Buchler RDD, Brito ASX, Mizzaci CC, Feitosa RHF, Leite DB, Hossri CAC, Albuquerque LCA, Freitas OGA, Grossman GB, Mastrocola LE. Position Statement on Exercise During Pregnancy and the Post-Partum Period - 2021. Arq Bras Cardiol. 2021 Jul;117(1):160-180. English, Portuguese. doi: 10.36660/abc.20210408. PMID: 34320089; PMCID: PMC8294738.