A dinâmica folicular ao longo da vida e o mecanismo de recrutamento, seleção e dominância

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Os folículos que serão destinados a participar do ciclo menstrual são formados na vida intrauterina. Com cerca de 20 semanas de gestação, o patrimônio folicular é cerca de 6 a 7 milhões. Após essa idade gestacional inicia o processo de atresia nos ovários. Ao nascimento, os ovários contêm cerca de um a dois milhões de folículos. Na realidade, a maioria deles seguirá sofrendo o processo de atresia durante a infância. Cerca de 500 mil estarão presentes no ovário no início da menama.

Os folículos presentes no ovário no inicio da menacme são primordiais. Eles são formados pelo ovócitos e apenas uma camada de células da granulosa. Após a menarca, estes folículos iniciam um processo de crescimento e multiplicação das células da granulosa e incorporação das células da teca. Tornam-se folículos maiores e mais desenvolvidos e passam a ser chamados folículos primários. Todo este processo ocorre independentemente da ação hormonal. O FSH passa a desenvolver os folículos a partir da fase de folículo primário. O mecanismo exato que promove a transformação dos folículos primordiais em primários ainda não é bem reconhecido. A partir deste momento, o desenvolvimento folicular passa de um momento independente do FSH para o momento de dependência. O FSH crescente no final da fase lútea seleciona cerca de 8 a 10 folículos primários a prosseguir o processo de desenvolvimento. O FSH age sobre os seus receptores nas células da granulosa e estimula a proliferação constante destas células bem como a produção de aromatase.

Ao passo que os folículos vão crescendo e produzindo quantidades expressivas de estrogênio, os folículos adquirem uma cavidade denominada antro. No momento do surgimento do antro, os folículos passam a ser chamados secundários ou antrais. Os folículos primários também podem ser chamados de pré-antrais. A transformação dos folículos pré-antrais em antrais ocorre por ação do FSH, ou seja, esse processo é dependente da ação gonadotrófica.

O folículo destinado a ovular em cada ciclo é denominado folículo dominante. É o que recebeu a maior quantidade de FSH e produziu uma maior concentração de estrogênios. Os demais folículos irão sofrer atresia. O folículo dominante é capaz de seguir o processo de desenvolvimento, apesar dos níveis decrescentes de FSH do final da fase proliferativa, uma vez que a sua abundante produção de estradiol realiza aumento da oferta e disponibilidade de receptores de FSH nas células da granulosa. Portanto, o FSH estimula também diretamente a síntese de mais receptores de FSH nas células da granulosa. Assim, tanto o estrogênio quanto o FSH realizam regulação positiva no número de receptores de FSH nas células da granulosa. O FSH também estimula a síntese de mais receptores de LH nas células da teca. Portanto, para que ocorra a produção de estradiol deve haver síntese prévia de androgênios. A rota bioquímica é sempre unidirecional: os androgênios serão convertidos em estrogênios, nunca o inverso. 

Após a extrusão do ovócito, o folículo dominante sofre luteinização tornando-se o corpo lúteo. Essa estrutura tem a capacidade de produzir estradiol e progesterona na segunda fase do ciclo. Se ocorrer fecundação, o trofoblasto em formação produz o hormônio gonadotrofina coriônica humana (HCG). Este hormônio é responsável por manter o corpo lúteo no ovário produzindo altas taxas de progesterona para manter o endométrio secretor para a nidação do ovo fecundado. O HCG mantém o corpo lúteo no ovário até cerca de 8 a 9 semanas de gestação, momento em que a placenta adquire a capacidade própria de secretar progesterona e o corpo lúteo entrara em apoptose. Estudos com modelos animais evidenciaram que se o corpo lúteo for retirado dos ovários antes de 8 a 9 semanas, a gestação é inexoravelmente interrompida. 

REFERÊNCIAS: 

  • Speroff's clinical gynecologic endocrinology and infertility. Hugh S Taylor; Marc A Fritz; Lubna Pal; Emre Seli. Ed. Philadelphia, PA: Wolters Kluwer, [2020]. 9th Edition.
  • Berek & Novak: Tratado de ginecologia. 16. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021.