A crise de perda de fôlego em crianças é um quadro benigno ou não?

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A crise de perda de fôlego é um problema que, geralmente, se manifesta entre os 6 e 18 meses de idade, persistindo até os 5 anos. Existem duas formas clínicas distintas: a cianótica e a pálida, cada uma com mecanismos fisiopatológicos próprios. Embora seja possível a ocorrência simultânea dos dois tipos, em geral, um deles predomina.

A forma cianótica é a mais comum e os episódios sempre são desencadeados por fatores emocionais, como frustração ou raiva. Durante o choro, a criança não consegue relaxar ao final da expiração, resultando em apneia, cianose, rigidez ou hipotonia e, em alguns casos, perda de consciência. Nesse tipo, o componente respiratório é o que determina o evento, sendo o comprometimento circulatório secundário. Os episódios não duram mais do que 60 segundos.

Já na forma pálida, os episódios ocorrem após um estímulo desagradável, como medo ou dor, e, geralmente, são acompanhados por choro mínimo ou silencioso. A criança apresenta breve apneia, palidez, alterações posturais e perda de consciência. Esse tipo é considerado uma forma de síncope reflexa, com cardioinibição desencadeada pelos estímulos negativos. Nesse caso, a fisiopatologia está principalmente relacionada à alteração do componente circulatório (bradicardia/assistolia).

Durante os episódios, é possível que a criança apresente hipotonia, postura tônica, opistótono e movimentos clônicos.

É fundamental investigar a deficiência de ferro e anemia, pois há evidências de que a suplementação de ferro pode reduzir a frequência dos episódios. Em geral, a evolução das crises é benigna, com bom prognóstico e tendência à resolução na idade escolar. No entanto, o quadro pode gerar grande preocupação e sofrimento para a família.

No tratamento, a educação desempenha um papel importante. É essencial tranquilizar a família e fornecer orientações sobre o manejo comportamental da criança diante de situações adversas. Em casos graves da forma pálida, pode-se considerar o tratamento farmacológico, como o uso de atropina ou glicopirrolato.

Referências:

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Tratado de pediatria. 5. ed. Barueri: Manole, 2022.